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terça-feira, 13 de junho de 2023

Dois dias mágicos para a Meliponicultura - JESUS SANTIAGO MOURE

O que podemos fazer com os nossos finais de semana? 

São dois dias para descansar do trabalho? Dormir até tarde? Passear? 

Jesus Santiago Moure usava os seus fins de semana fazendo prospecções de insetos, e criou um arcabouço sólido para a meliponicultura, sendo lembrado, citado e referenciado até hoje! Iniciou sua coleção de abelhas capturando os espécimes nos arredores do Seminário e nos jardins do Convento.

Durante mais de 65 anos, Padre Moure pesquisou as abelhas nativas do Brasil. É considerado um dos maiores taxonomistas do mundo em abelhas sem-ferrão da região neotropical. Descreveu cerca de 500 espécies e subespécies de abelhas e catalogou outras 12 mil.

Ele dizia: “A riqueza de nossa entomofauna é incrível. Pesquisas preliminares em regiões de florestas tropicais mostram que há um número impressionante de insetos desconhecidos... Continuamente encontramos espécies ainda não descritas, pois não há levantamento sistemático de nossa fauna e flora.

A religião o fez mais curioso sobre a criação de Deus, e dedicou-se a ciência como um braço da religião: “A atitude que sempre tive em relação à natureza é a seguinte: descobrir como é que as coisas se fazem de acordo com a Lei de Deus. E a Lei de Deus é a Lei da evolução correndo no tempo.

Padre Moure nasceu no dia 2 de novembro de 1912, em Ribeirão Preto, São Paulo, dois meses após a chegada de seus pais ao Brasil. O pai, engenheiro, deixou a região da Galícia, na Espanha fugindo da Guerra com Marrocos, para trabalhar na Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. 

Na infância, lembra como começou sua curiosidade: “O primeiro estímulo que recebi no campo das ciências naturais veio de um professor do grupo escolar, chamado pela meninada de Bigodinho de Arame. [...] ele nos levava ao bosque de Ribeirão Preto para colher flores, bichinhos, pedras, e nos dava muitas explicações. Era o melhor dia da semana.

Em uma entrevista, foi questionado por José Wille

José WillePara a entomologia, uma coisa positiva do Brasil é a diversidade, considerada uma das maiores.

Padre Jesus Santiago MoureUma das maiores diversidades do mundo! Por exemplo, um estudo feito pelo dr. Carlos Alberto Seabra, do Rio de Janeiro, que é um médico, agora já com 81 anos: durante 50 anos, ele fez coletas regulares no Cristo do Corcovado, desde quando foi instalado lá. A fauna que ele obteve de um determinado grupo de animais, cortadores de madeira, ali em cima no Cristo, ali batendo no Cristo e caindo no chão, é maior que a fauna dos Estados Unidos e Canadá juntos.

Diante dessa lembrança curiosa sobre o efeito da luminosidade nos primeiros anos do Cristo Redentor no Corcovado, salientada por Padre Moure, eu fico pensando o quanto as luzes nas orlas marinhas atraem animais para as areias das praias, quanto material foi perdido, e tal qual no Corcovado, quanto desequilíbrio causou e ainda causa aos habitantes da noite marinha.

Moure é internacionalmente conhecido principalmente por causa da sua coleção biológica.

Aranda (2014) define coleção biológica como ‘um conjunto de organismos que são conservados fora de seu ambiente natural’ e para isso é necessário que seus componentes sejam preparados e organizados de modo a informar a procedência e identificação taxonômica de cada um dos espécimes, o que lhe confere status de coleção científica.

As coleções biológicas são um repositório de material biológico que dão suporte à pesquisa científica, ao ensino e à extensão, e permite ainda a comparação de toda e qualquer pesquisa realizada.

O Brasil ganhou a sua primeira coleção biológica em 1818, quando o imperador Dom João VI fundou a Casa dos Pássaros, instituição que deu origem ao Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Em 1866 foram criadas as coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi e em 1886 o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. No decorrer do século XX outras instituições criaram coleções zoológicas regionais que passaram a formar uma rede com proporções e representatividade ainda mal estimadas. 

Algumas estimativas sugerem que existam cerca de 26 milhões de espécimes depositados em coleções brasileiras (ZAHER; YOUNG, 2003)

E a contribuição do Padre Moure para essas coleções é superlativa, principalmente sobre as abelhas sem ferrão. Seu fichário de 12 mil itens, datilografado, hoje serve de bíblia para entomólogos com um mínimo de juízo científico. Publicou 216 trabalhos e descreveu e propôs cerca de 500 nomes de abelhas – a primeira foi a Augochloropsis liopelte, em 1940. Ele é um dos três grandes nomes da Meliponicultura Brasileira

E para nós da AME-RIO não podemos deixar de lembrar sobre a Manduri Carioca, identificada por ele no Alto da Boa Vista na entrada da Floresta da Tijuca, PNT, Parque Nacional da Tijuca.

Não desperdicemos nossos preciosos momentos de lazer de modo vulgar, pois essas atividades mesmo que aparentemente simples e despretensiosas, podem representar uma diferença no futuro, seja de poucas pessoas, um grupo ou mesmo uma comunidade, como um efeito dominó transcendendo o tempo. E Padre Moure nos ensinou pelo exemplo que até uma diversão pode ser útil ao próximo, se bem direcionada!

Medina  






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