O relato que pretendo apresentar é sobre um fenômeno muito raro e ainda um mistério do fator que dá início ao processo, apesar de já ter sido pesquisado e compreendido o mecanismo biológico de como ocorre.
O material que será apresentado, e todo o mérito de registro, é do nosso associado André da Ilha Grande, proprietário de uma hospedagem (24 - 998154802) onde se encontra o Meliponário Saco do Céu, e da BeePoint, que realiza atividades de educação ambiental e usa os Gibis da AME-RIO.
Abro um parênteses aqui para os reclames do BeePoint - quem quiser conhecer abelhas nativas em um ambiente totalmente nativo e conservado, procure nosso associado e amigo da BeePoint. Você poderá se hospedar e passear por trilhas fascinantes da Ilha Grande com ele. A AME-RIO já realizou duas reuniões nesse maravilhoso cenário. Ele é um ótimo anfitrião!
Mas voltando ao nosso assunto: “Essa beia é homi?”, André durante uma revisão de rotina nas caixas de uruçus amarelas de seu meliponário percebeu uma abelha com aparência peculiar entre as demais. Seguindo seu espírito “abelhudo” de curiosidade, conseguiu separá-la, e retirá-la da caixa para uma melhor identificação. Afinal não se parecia com uma princesa, nem com uma Rainha. Para operária estava esquisita! Zangão não era...
Separada a beinha, veio a surpresa...
É importante ressaltar que o manejo correto de um meliponário inclui inspeções periódicas das caixas com o fim de verificar a população, características da cera das lamelas e dos potes de mel, aroma interno, quantidade de potes estocados ou consumidos, estado da postura, entre outras observações. É a lida do dia a dia que formata a sensibilidade do meliponicultor, e aguça o espírito “abelhudo” para perceber pequenas alterações, que podem ser importantes indícios para tomadas de decisões do manejo, ou descobertas incríveis como essa do André.
Bem, a surpresa são essas imagens a seguir:
André ficou muito surpreso pois conhecia o fenômeno, mas nunca havia presenciado vivo, em sua própria caixa em seu próprio meliponário, a anomalia tem como nome um palavrão: ginandromorfismo.
Geralmente, os animais tendem a ser sexualmente dimórficos, ou seja, uma aparência diferente entre o macho e a fêmea de uma mesma espécie.
Machos, têm gametas pequenos, e fêmeas, gametas grandes, os quais são necessários para a reprodução sexual. Mas vez ou outra na natureza podem ser encontrados indivíduos ginandromorfos. Diferente dos hermafroditas, que geralmente parecem masculinos ou femininos, mas têm os órgãos reprodutivos de ambos, os indivíduos ginandromorfos possuem corpos inteiros com características metade femininas e metade masculinas. É impressionante e MUUUITO raro!
Embora raro, este não é um fenômeno novo, ginandromorfos já foram encontrados em pelo menos 140 espécies de abelhas, além de borboletas, pássaros e crustáceos. Mas nas abelhas, esta característica geralmente só é vista depois que o inseto já está morto e em um museu. Por isso esse registro do André BeePoint é tão significativo, e mais raro ainda pois foi capturado vivo, o que valeu alguns vídeos, como os abaixo.
Mas como isso é possível? Exatamente metade do corpo do indivíduo, em um corte ao comprido, pode-se ter todas as características de cada sexo...?
Embora não se tenha certeza de como exatamente essa anomalia é desencadeada, outros estudos em insetos semelhantes podem fornecer algumas teorias. Há alguns anos, cientistas da Universidade de Sydney, analisaram os genes de vários casos de ginandromorfismo nas abelhas. Eles descobriram que os híbridos fêmea-macho provavelmente eram o resultado de um acidente no desenvolvimento larval, na verdade nas primeiras desdobras do ovo.
A causa desse fenômeno é tipicamente, mas nem sempre, um erro na mitose, durante o desenvolvimento inicial do ser. Vamos tentar explicar de uma maneira bem simples, temos abaixo, como exemplo a imagem do mecanismo da determinação do sexo de uma abelha, pela presença ou ausência do gameta masculino, então serão fêmeas se houver os gametas da rainha e do zangão. E todas as posturas de ovos não fecundados serão machos.
Bem no início do processo de divisão celular, embora o organismo contenha apenas algumas células, uma das células em divisão não divide seus cromossomos sexuais normalmente. Isso faz com que uma das duas células iniciais do processo de formação do ser tenha cromossomos sexuais que causam o desenvolvimento masculino e a outra célula tenha cromossomos que causam o desenvolvimento feminino.
E daí metade do ser em formação apresenta formação celular masculina e a outra metade feminina. E o processo de desdobra das células iniciais consegue ter continuidade sem a morte do indivíduo.
Mesmo assim ainda não se explica como a divisão dessas características sexuais se projetam exatamente em uma divisão bilateral perfeita.
Só DEUS!!
Medina