TRANSFORMAÇÃO
DO NECTAR EM MEL PELAS ASF.
Harold Brand – Biólogo – Meliponicultor-consultor da APA.
Abelha ebúrnea no trabalho de
desidratação do néctar.
Na foto
a cor azul claro é o néctar regurgitado, que na boca toma a forma quase
esférica. Este é o formato que permite a maior perda de umidade.
Que os entendidos em Física avaliem mais esta
perfeição das abelhas. A evaporação ocorre pela superfície dos líquidos e a
esfera é o formato que permite a maior superfície possível.
O colorido de amarelo representa a região anterior do sistema digestório da abelha, como podemos observar, ele é formado por um longo tubo que termina em uma grande dilatação. Esse é o papo uma espécie dilatação onde o néctar é armazenado para ser regurgitado.
O desenho representa apenas a
região anterior do sistema digestório, local onde o néctar circula, boca, papo
e vice-versa. Cada vez que ele na língua é exposto ao ar, uma parte da água
evapora. Este movimento é repetido centenas de vezes, para que ocorra uma perda
significativa de água do néctar.
O mecanismo lembra uma jarra de
água “papo” derramada em uma bacia “gota” onde aumenta a superfície em contato
com ar para evaporar. Quantas vezes o mecanismo deve ser repetido para que
ocorra uma perda mínima de água para concentrar o néctar.
Do total do néctar depositado no papo, só uma
pequena fração segue adiante no tubo digestivo para alimentar a própria abelha.
Na foto, o vidro destinado a
observação colocado na parte superior da colmeia com impregnado com numerosas
gotículas, resultado da condensação do vapor da desidratação do néctar.
No decorrer do tempo as gotículas se agregam
formando pequenas gotas que despencam ou escorram pelas paredes, acumulando no
fundo da colmeia.
Melipona scutellaris
A foto é apenas a parte visível, para nós, da transformação do
néctar em mel, a fase oculta, feita por milhares de pequenos organismos em que
cada um acrescenta pequenas e diferentes parcelas de suas virtudes ao mel. São
mais de vinte gêneros entre bactérias e leveduras participantes desse magnifico
trabalho
Melipona
seminigra
Como
uma espécie de irmãs gêmeas, ambas operárias regurgitando simultaneamente a água
acumulada no papo para o meio exterior.
A DESIDRATAÇÂO DO NECTAR
Na transformação do néctar em mel pelas nossas abelhas nativas intervém
dois processos distintos, um físico e outro químico:
O físico, consiste na
redução do teor de água do néctar pelo processo de evaporação. O néctar colhido
nas flores varia entre 70 a 90 por cento de água e deve ser reduzido
aproximadamente para 30 por cento no produto final, o mel.
O químico, em que as substâncias
dissolvidas no néctar são transformadas em outras, graças a ação de enzimas
glandulares das abelhas e atividade enzimáticas tanto de bactérias como
leveduras presentes no trato digestivo das abelhas e dos que povoam os potes de
mel.
A redução do teor de água se dá por evaporação e para que ocorra são
necessárias condições físicas favoráveis, como:
Superfície em contato com ar: a evaporação
ocorre na superfície dos líquido e quanto maior, maior será a evaporação.
A bolha líquida formada na boca da
abelha na regurgitação é quase esférica, é a superfície máxima ideal para um
volume de evaporação possível.
Temperatura: quanto maior,
mais intensa será evaporação. Toda vez que o líquido volta para o papo é
reaquecido devido a temperatura da abelha.
Estado higrométrico do ar:
a colmeia é um ambiente fechado onde há uma grande umidade interna que
dificulta ou mesmo impede a perda de água por evaporação
O DIFÍCIL PROCESSO DE DESIDRATAÇÃO NO
AMBIENTE FECHADO DA COLMEIA
Como é fácil perceber a tarefa é extenuante, com pequeno rendimento e as
campeiras necessitam serem liberadas para a busca de novos carregamentos no
pasto floral.
A logística é simples, depositar o néctar parcialmente manipulado nos
potes de mel ainda abertos para que a maior parte das operarias da colmeia
tenham acesso e participem no processo.
As operárias posicionam-se nas bordas dos potes abertos e mergulham as
suas longas línguas no líquido acumulado fazendo com que circule, facilitando a
evaporação pela renovação da superfície em contato com o ar.
O meliponicultor, pela experiência, sabe que na época de floradas o
interior da colmeia se torna muito úmido, o vapor da desidratação condensa nas
paredes e muitas vezes chega a escorrer para o fundo da colmeia onde se acumula.
De
tempo em tempo, algumas operárias faxineiras sugam essa água e transportam no
seu papo dilatado até a entrada da colmeia, onde regurgitam para o meio exterior. Como é possível notar, o papo para as abelhas
é um instrumento de múltiplo uso.
A GRANDE REVOADA DE DESIDRATAÇÃO
A foto das Meliponas scutellaris mais a cima, retrata junto aos potes ainda abertos, o
intenso trabalho comunitário de várias operárias entretidas em lançar no
caldeirão o néctar parcialmente desidratado e certamente acrescido das virtudes
das suas secreções glandulares.
Ao mesmo tempo em que realizam esse
procedimento, agitam as suas línguas movimentando o liquido dando uniformidade
ao mesmo. Comportamento esse que nos faz lembrar em muito a técnica na Medicina
Homeopática no manejo da potencialização dos medicamentos através dinamização.
Nos períodos de grande entrada de néctar
algumas espécies de abelhas adotam uma estratégia particular. Em dado momento partem
da colmeia em grande número levando o néctar no papo e se agrupam nas proximidades.
Inicialmente, elas no seu voo, circulam em torno de um eixo imaginário durante
alguns minutos, em continuidade, direcionam-se frente a direção do vento e
assim permanecem em voo quase estacionário. O ruído das suas asas pode ser
ouvido já a distância. Se, nos
posicionarmos abaixo desse frenesi voador podemos sentir o frescor do ar úmido.
A revoada pode levar duas horas antes de todas as abelhas voltarem para a sua
colmeia.
Nós humanos, aprendemos desde a infância que uma
tolha molhada seca mais depressa no varal do que amontoada dentro de casa.
Harold Brand
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