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domingo, 24 de junho de 2018

FORÍDEOS E AS ABELHAS, CONHECENDO MELHOR O COMPORTAMENTO

Hoje temos o primeiro artigo de um novo colaborador, o Mestre Harold Brand, biólogo, meliponicultor e consultor da APA (Associação Paranaense de Apicultura).
Ele nos brindou com um tema que é de interesse de todo meliponicultor: 
FORÍDEOS E AS ABELHAS, CONHECENDO MELHOR O COMPORTAMENTO.


      O comportamento dessa espécie de mosca, na sua fase larvária desempenha dois papéis distintos, um na cadeia alimentar na função de decompositoras e outro como invasora eventual de colmeia como predata oportunista.

     Na natureza, por meio de suas larvas tem importante função na transformação da matéria orgânica em compostos mais simples, como os sais minerais necessários na continuidade da vida vegetal.
     Elas convivem bem no equilíbrio da natureza, para a sua postura apreciam o solo úmido das matas e em particular os locais onde se acumulam muitas folhas, restos animais e outros materiais orgânicos em decomposição. No espaço ocupado pelo homem, as fêmeas grávidas havidas na postura, procuram os lugares próximos à criação de gado, porcos, galinhas e outras criações principalmente onde a higiene é descuidada. Neles, as emanações do forte cheiro ácido funciona como atrativo ou sinalizador para as fêmeas grávidas na localização de um berço esplêndido para a postura de seus ovos e a garantia nutricional para sua descendência.

      Como predadora oportunista das colmeias em situação de desiquilíbrio, motivada muitas vezes pelo manejo inadequado, as suas larvas podem levar a destruição completa das famílias. Fato que levou a ser considerada por muitos meliponicultores como inimiga número 1 de seus enxames.

      As fêmeas adultas grávidas com sua notória agilidade lhes permitem penetrar em qualquer colmeia, burlando com a sua rapidez as atentas abelhas sentinelas posicionadas na entrada da colmeia. Entretanto, as famílias bem estruturadas os ovos postos são rapidamente descartados.

As abelhas: conhecendo melhor o comportamento.
      Na história evolutiva das abelhas há uma convivência com os forídeos que data de pelo menos 20 milhões de anos, nesse período as abelhas aprenderam a conviver, elas sabem como neutralizar a sua infestação desde que nós humanos não as atrapalhem com manejo inadequado.
      Sabemos que a infestação dessas “ mosquinhas” é mais frequente após as divisões das colônias, quando estas são resultantes de manejo que não foi levada em conta pelo meliponicultor as várias faixas etárias das abelhas na sua distribuição equitativa entre da caixa mãe e filha. Nos casos de divisão feita pelo meliponicultor em que a caixa mãe ou a filha recebam apenas abelhas novas, essas são incapazes de reconhecer e manipular os ovos postos por essas moscas e como resultado uma inevitável proliferação das larvas.

       Há uma crença generalizada de que em caso de necessidade as abelhas podem retornar as atividades a estágios anteriores “politeísmo etário”. Mas, esse mecanismo ou comportamento é relativo, pois muitas das atividades das abelhas estão relacionada a órgãos que se desenvolvem e que atrofiam no transcorrer da vida e que são indispensáveis para exercer certas funções especializadas. Por sua vez a mais novas passam a metade de suas vidas confinadas na colmeia, elas ainda não estão aptas a voar e como tal sem a capacidade de explorar o pasto floral.


        Fica claro, ao meliponicultor mais atento, os cuidados necessários e a importância ao dividir as suas colmeias para que as famílias resultantes recebam abelhas de várias faixas etárias. Ambas devem ter por exemplo as faxineiras, habilitadas em remover os resíduos e os ovos postos pelas moscas. Do mesmo modo no caso da caixa filha receber somente abelhas novas, essas não irão concertar as estruturas destruídas durante o manejo e muito menos remover os ovos postos pelas moscas. Os resultados são previsíveis, o caminho fica aberto para a infestação descontrolada. Ainda no caso da família filha que após a divisão ser constituída apenas por abelhas novas, na ausência das mais velhas nas suas proximidades, elas abandonam o disco de cria que é o local normal da sua permanência passando a percorrer o interior da colmeia e finalmente acabam saindo para o meio exterior onde sucumbem. Nessa faixa etária ainda não sabem voar e nem desenvolveram a capacidade de orientação. Nas abelhas existe o “sentido” de aprendizado (os pesquisadores alemães e ingleses denominam o aprendizado de “imitação deferida” a proximidades das mais velhas o exemplo é importante.

       A sociedade das nossas abelhas é uma estrutura complexa e às vezes muito parecida com a nossa.

     São esses cuidados que torna interessante adotar o manejo pelo método de divisão progressiva, pois ele permite uma distribuição mais equitativa das diversas faixas etárias e ainda por acréscimo pode ser usado para o melhoramento genético massal.

       Muitos meliponicultores ainda no intuito de gerar muitas famílias em pouco tempo realizam divisões seguidas que resultam em colmeias com pequeno número de abelhas. Nessas condições certamente elas não têm tempo de desenvolver todas as atividades e ainda coletar os ovos das moscas.  Em pouco tempo o destino fica selado e para o meliponicultor o desespero da perda.

     O manejo descuidado na divisão pode romper muitas estruturas como potes de pólen e mel ao ponto de as abelhas não darem conta de arrumar a casa e ao mesmo tempo de se defender da postura das fêmeas dos forídeos. Uma das vantagens da técnica da divisão em etapas progressivas “imita o processo de enxameação natural” é permitir o manejo sem rupturas, às estruturas se mantêm intactas em ambas famílias resultantes.

     Outro cuidado é com a alimentação artificial, os açúcares dos xaropes devem ser transformados pelas abelhas e para isso ocorra há necessidade da atividade enzimáticas das glândulas de secreção. Se a alimentação fornecida for excessiva as abelhas não conseguirão metabolizar e o conteúdo dos potes entrara em fermentação descontrolada, emanando aquele cheirinho que as fêmeas dos forídeos adoram. (A capacidade de produção de certas enzimas digestiva é uma característica de faixas etárias).


       Os Fórides uma observação e duas experiências

Uma observação:
       Uma observação pessoal que me fez refletir muito sobre a relação entre abelha e fórides; ela ocorreu em una tarde quente no cemitério da Água Verde. Este santuário, contornado por um paredão de pedra com 4 metros de altura, (obstáculo criado para impedir que os vivos não roubem os mortos) com frestas entre as pedras de granito. Esses nichos se tornaram alojamento tentador para as jataís e mirins a ponto de poder contabilizar na região leste do paredão oito famílias compreendidas numa pequena distância linear de 50 metros.
        O interessante nesse mesmo local são as verdadeiras nuvens formadas pela revoada de forídeos que aí proliferam. Sem pretender comentar aqui a origem dessa concentração alta de moscas, pois o nosso foco principal é explicar sua convivência “pacifica” com as abelhas.
    Esta situação é a prova que essas duas espécies podem conviver no mesmo ambiente e estabelecer adaptações de equilíbrio. As relações de predatismo larval com as abelhas só ocorrem em condições especiais e com certeza o maior responsável de uma forma ou de outra é do ser predominante no nosso planeta.
    Até na enxameação o equilíbrio é perfeito, ela é gradual, leva semanas na limpeza e preparação da nova morada na qual participam abelhas de quase todas as faixas etárias, habilitadas a exercer a maioria das funções que uma nova colônia requer.

     Nota: nesse processo não participam as inexperientes abelhas novas, pois são incapazes de voar, mas como são as produtoras de cera, talvez esta seja a razão porque a relação família mãe e filha se mantêm por muito tempo, é preciso voltar a casa mãe na busca da preciosa cera para as construções na nova morada.


Uma das experiências:

     Sabemos que as larvas têm respiração cutânea e que todo e qualquer processo respiratório requer umidade como intermediação na difusão do oxigênio necessário. Baseado nesse conhecimento, basta aplicar sobre o disco contaminado pelas larvas, uma substancia que absorva rapidamente a umidade. O talco inodoro cumpre bem esse papel, basta pulverizar toda a superfície do disco e após alguns minutos de espera podemos remover com um pincel macio o talco e as larvas, elas agora se desprendem facilmente. O disco assim tratado pode ser introduzido em uma colônia forte.  As abelhas irão completar o serviço e adotar o disco de cria.

A outra experiência:

      Introduzir o disco contaminado diretamente numa colônia forte. A resposta será imediata, podemos ouvir em poucos minutos o aumento do ruído das vibrações das asas das abelhas, é o chamamento para que as operarias passem a concentrar os seus esforços na limpeza do disco.  Em poucas horas as larvas mortas das abelhas no disco assim como, os ovos e larvas dos forídeos serão removidos.
      Na caixa contaminada devem ser removidos completamente os potes de mel e pólen, só deixando as abelhas para que finalizem a limpeza. Após dias a colmeia contaminada pode ter seu disco de volta, agora já limpo. A alimentação pode ser artificial, mas sem excessos.

Um recurso emergencial, os repelentes naturais;

    Muitos vegetais produzem substâncias que as protegem contra os agentes do meio ambiente, os botânicos as denominam de metabólicos secundários. Um exemplo é o óleo de andiroba e óleo de copaíba extraída das plantas Carapa guianenses e Copaifera officinalis .
Esses óleos têm entre seus componentes substâncias repelentes para alguns insetos, funcionam bem nas formigas e forídeos o que é muito interessante, praticamente não afetam as abelhas. Nas infestações sem controle pelas mosquinhas o recurso é passar as substancias no fundo da caixa e próximo à entrada da colmeia. No caso especial das formigas, passar um algodão embebido sobre o acetato uma vez que é o local onde elas normalmente costumam fazer seus ninhos.  Esses dois óleos também são repelentes naturais do cupim.
Apesar da atenta abelha sentinela na entrada da colmeia, à ágil mosquinha penetra com facilidade no interior da colmeia.

Harold Brand

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