Hoje temos o primeiro artigo de um novo colaborador, o Mestre Harold Brand,
biólogo, meliponicultor e consultor da APA (Associação Paranaense de Apicultura).
Ele nos brindou com um tema que é de interesse de todo meliponicultor:
FORÍDEOS E AS ABELHAS, CONHECENDO MELHOR O COMPORTAMENTO.
O comportamento dessa espécie de mosca, na
sua fase larvária desempenha dois papéis distintos, um na cadeia alimentar na
função de decompositoras e outro como invasora eventual de colmeia como predata
oportunista.
Na natureza, por meio de suas larvas tem
importante função na transformação da matéria orgânica em compostos mais simples,
como os sais minerais necessários na continuidade da vida vegetal.
Elas convivem bem no equilíbrio da natureza,
para a sua postura apreciam o solo úmido das matas e em particular os locais
onde se acumulam muitas folhas, restos animais e outros materiais orgânicos em
decomposição. No espaço ocupado pelo homem, as fêmeas grávidas havidas na
postura, procuram os lugares próximos à criação de gado, porcos, galinhas e outras
criações principalmente onde a higiene é descuidada. Neles, as emanações do
forte cheiro ácido funciona como atrativo ou sinalizador para as fêmeas
grávidas na localização de um berço esplêndido para a postura de seus ovos e a
garantia nutricional para sua descendência.
Como
predadora oportunista das colmeias em situação de desiquilíbrio, motivada
muitas vezes pelo manejo inadequado, as suas larvas podem levar a destruição
completa das famílias. Fato que levou a ser considerada por muitos meliponicultores
como inimiga número 1 de seus enxames.
As fêmeas
adultas grávidas com sua notória agilidade lhes permitem penetrar em qualquer colmeia,
burlando com a sua rapidez as atentas abelhas sentinelas posicionadas na
entrada da colmeia. Entretanto, as famílias bem estruturadas os ovos postos são
rapidamente descartados.
As abelhas:
conhecendo melhor o comportamento.
Na história evolutiva das abelhas há uma
convivência com os forídeos que data de pelo menos 20 milhões de anos, nesse
período as abelhas aprenderam a conviver, elas sabem como neutralizar a sua
infestação desde que nós humanos não as atrapalhem
com manejo inadequado.
Sabemos que a
infestação dessas “ mosquinhas” é mais frequente após as divisões das colônias,
quando estas são resultantes de manejo que não foi levada em conta pelo
meliponicultor as várias faixas etárias das abelhas na sua distribuição
equitativa entre da caixa mãe e filha. Nos casos de divisão feita pelo
meliponicultor em que a caixa mãe ou a filha recebam apenas abelhas novas,
essas são incapazes de reconhecer e manipular os ovos postos por essas moscas e
como resultado uma inevitável proliferação das larvas.
Há uma crença
generalizada de que em caso de necessidade as abelhas podem retornar as atividades
a estágios anteriores “politeísmo etário”. Mas, esse mecanismo ou
comportamento é relativo, pois muitas das atividades das abelhas estão relacionada
a órgãos que se desenvolvem e que atrofiam no transcorrer da vida e que são indispensáveis
para exercer certas funções especializadas. Por sua vez a mais novas passam a
metade de suas vidas confinadas na colmeia, elas ainda não estão aptas a voar e
como tal sem a capacidade de explorar o pasto floral.
A sociedade das nossas abelhas é uma estrutura
complexa e às vezes muito parecida com a nossa.
São esses
cuidados que torna interessante adotar o manejo pelo método de divisão
progressiva, pois ele permite uma distribuição mais equitativa das diversas
faixas etárias e ainda por acréscimo pode ser usado para o melhoramento
genético massal.
Muitos meliponicultores ainda no intuito de gerar
muitas famílias em pouco tempo realizam divisões seguidas que resultam em
colmeias com pequeno número de abelhas. Nessas condições certamente elas não
têm tempo de desenvolver todas as atividades e ainda coletar os ovos das moscas. Em pouco tempo o destino fica selado e para o
meliponicultor o desespero da perda.
O manejo descuidado na divisão pode romper
muitas estruturas como potes de pólen e mel ao ponto de as abelhas não darem conta
de arrumar a casa e ao mesmo tempo de se defender da postura das fêmeas dos forídeos.
Uma das vantagens da técnica da divisão em etapas progressivas “imita o
processo de enxameação natural” é permitir o manejo sem rupturas, às estruturas
se mantêm intactas em ambas famílias resultantes.
Outro cuidado é com a alimentação artificial,
os açúcares dos xaropes devem ser transformados pelas abelhas e para isso
ocorra há necessidade da atividade enzimáticas das glândulas de secreção. Se a
alimentação fornecida for excessiva as abelhas não conseguirão metabolizar e o
conteúdo dos potes entrara em fermentação descontrolada, emanando aquele
cheirinho que as fêmeas dos forídeos adoram. (A capacidade de produção de
certas enzimas digestiva é uma característica de faixas etárias).
Os Fórides uma observação e duas experiências
Uma observação:
Uma observação
pessoal que me fez refletir muito sobre a relação entre abelha e fórides; ela
ocorreu em una tarde quente no cemitério da Água Verde. Este santuário,
contornado por um paredão de pedra com 4 metros de altura, (obstáculo criado
para impedir que os vivos não roubem os mortos) com frestas entre as pedras de
granito. Esses nichos se tornaram alojamento tentador para as jataís e mirins a
ponto de poder contabilizar na região leste do paredão oito famílias
compreendidas numa pequena distância linear de 50 metros.
O interessante
nesse mesmo local são as verdadeiras nuvens formadas pela revoada de forídeos
que aí proliferam. Sem pretender comentar aqui a origem dessa concentração alta
de moscas, pois o nosso foco principal é explicar sua convivência “pacifica”
com as abelhas.
Esta situação é a
prova que essas duas espécies podem conviver no mesmo ambiente e estabelecer
adaptações de equilíbrio. As relações de predatismo larval com as abelhas só
ocorrem em condições especiais e com certeza o maior responsável de uma forma
ou de outra é do ser predominante no nosso planeta.
Até na enxameação
o equilíbrio é perfeito, ela é gradual, leva semanas na limpeza e preparação da
nova morada na qual participam abelhas de quase todas as faixas etárias, habilitadas
a exercer a maioria das funções que uma nova colônia requer.
Nota: nesse processo não participam as inexperientes
abelhas novas, pois são incapazes de voar, mas como são as produtoras de cera,
talvez esta seja a razão porque a relação família mãe e filha se mantêm por
muito tempo, é preciso voltar a casa mãe na busca da preciosa cera para as construções
na nova morada.
Uma das experiências:
Sabemos que as
larvas têm respiração cutânea e que todo e qualquer processo respiratório
requer umidade como intermediação na difusão do oxigênio necessário. Baseado
nesse conhecimento, basta aplicar sobre o disco contaminado pelas larvas, uma
substancia que absorva rapidamente a umidade. O talco inodoro cumpre bem esse
papel, basta pulverizar toda a superfície do disco e após alguns minutos de espera
podemos remover com um pincel macio o talco e as larvas, elas agora se
desprendem facilmente. O disco assim tratado pode ser introduzido em uma colônia
forte. As abelhas irão completar o
serviço e adotar o disco de cria.
A outra experiência:
Introduzir o
disco contaminado diretamente numa colônia forte. A resposta será imediata,
podemos ouvir em poucos minutos o aumento do ruído das vibrações das asas das
abelhas, é o chamamento para que as operarias passem a concentrar os seus esforços
na limpeza do disco. Em poucas horas as
larvas mortas das abelhas no disco assim como, os ovos e larvas dos forídeos
serão removidos.
Na caixa
contaminada devem ser removidos completamente os potes de mel e pólen, só
deixando as abelhas para que finalizem a limpeza. Após dias a colmeia
contaminada pode ter seu disco de volta, agora já limpo. A alimentação pode ser
artificial, mas sem excessos.
Um recurso
emergencial, os repelentes naturais;
Muitos vegetais
produzem substâncias que as protegem contra os agentes do meio ambiente, os
botânicos as denominam de metabólicos secundários. Um exemplo é o óleo de
andiroba e óleo de copaíba extraída das plantas Carapa guianenses e Copaifera
officinalis .
Esses óleos têm entre seus componentes substâncias repelentes
para alguns insetos, funcionam bem nas formigas e forídeos o que é muito interessante,
praticamente não afetam as abelhas. Nas infestações sem controle pelas
mosquinhas o recurso é passar as substancias no fundo da caixa e próximo à
entrada da colmeia. No caso especial das formigas, passar um algodão embebido sobre
o acetato uma vez que é o local onde elas normalmente costumam fazer seus
ninhos. Esses dois óleos também são repelentes
naturais do cupim.
Apesar da atenta abelha sentinela
na entrada da colmeia, à ágil mosquinha penetra com facilidade no interior da
colmeia.
Harold Brand
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