Reproduzo aqui uma matéria do "O ESTADO DE S. PAULO" muito boa sobre a dificuldade dos meliponicultores.
(caderno Paladar de out/2011)
Boa Leitura
Boa Leitura
Medina
As abelhas indígenas sem ferrão (Meliponíneas) são
nativas do Brasil e sempre voaram por aí, de flor em flor,
produzindo mel de ótima qualidade.
Ops, mel não, porque o alimento produzido pelas abelhas indígenas não pode ser chamado de mel.
A legislação vigente se baseia nos padrões físico-químicos do mel produzido por abelhas estrangeiras (Apis mellifera e Apis mellifera scutellata) – esse que está nas prateleiras de qualquer supermercado.
Para ser “considerado” mel, o produto das abelhas indígenas deveria ter umidade máxima de 20% – mas chega a 35% – e, no mínimo, 65% de açúcares redutores (tem 50%). Por isso, o “mel” de jataís, mandaçaias, borás, uruçus e tubunas continua desconhecido.
E clandestino.
Ops, mel não, porque o alimento produzido pelas abelhas indígenas não pode ser chamado de mel.
A legislação vigente se baseia nos padrões físico-químicos do mel produzido por abelhas estrangeiras (Apis mellifera e Apis mellifera scutellata) – esse que está nas prateleiras de qualquer supermercado.
Para ser “considerado” mel, o produto das abelhas indígenas deveria ter umidade máxima de 20% – mas chega a 35% – e, no mínimo, 65% de açúcares redutores (tem 50%). Por isso, o “mel” de jataís, mandaçaias, borás, uruçus e tubunas continua desconhecido.
E clandestino.
Fosse uma questão de saúde, a
produção de “mel” de abelhas
indígenas sem ferrão (Meliponíneas) deveria ser incentivada,
porque ele tem poder antibiótico
maior que o da introduzida
Apis mellifera.
Se se tratasse de uma preocupação ambiental, as abelhas nativas seriam protegidas como importantes polinizadoras.
Sendo o gosto o assunto, o mel ácido e menos doce de tiúbas, manduris e tubis tiraria o paladar do marasmo.
Porque,então,apesar de tantos predicados:
Como a composição do de abelhas indígenas é diferente – é mais líquido e tem menos açúcares, este não pode ser chamado de mel.
Brasileiro – e clandestino. “Pura questão burocrática.
México e Venezuela têm o mesmo problema”, diz Paulo Nogueira Neto, professor titular emérito da USP e especialista em abelhas indígenas sem ferrão. “Como há legislação sobre a criação, agora você pode criar e até vender ninhos. Só não pode comercializar. Por isso o mel das Meliponíneas é vendido clandestinamente.” (Até 2004 o manejo destas abelhas, espécies selvagens, era proibido.)
Por se organizarem em colônias menores, as abelhas indígenas produzem menos mel que a Apis – e ele custa dez vezes mais. “Quem conhece, não se importa de pagar mais”, diz Marilda Cortopassi-Laurino, pesquisadora do Laboratório de Abelhas da USP.
Enquanto o Brasil não tem uma lei que respeite as características do mel das Meliponíneas, alguns produtores têm testado a desumidificação deste produto. No entanto, ainda não há pesquisas que comprovem se o procedimento não compromete o poder antibiótico e as qualidades gustativas.
“Não tenho nada contra a desidratação em si, desde que seja assumida. O que não admito é obrigar a desidratar”, diz Roberto Smeraldi, da Oscip Amigos da Terra Amazônia Brasileira
Se se tratasse de uma preocupação ambiental, as abelhas nativas seriam protegidas como importantes polinizadoras.
Sendo o gosto o assunto, o mel ácido e menos doce de tiúbas, manduris e tubis tiraria o paladar do marasmo.
Porque,então,apesar de tantos predicados:
1) o mel de abelhas indígenas
não está à venda
em todo canto;
2) tanta gente
desconhece a existência de abelhas indígenas;
3)há aspas abraçando a palavra mel neste texto?
Culpa de um regulamento
de 1952 que baseia nas característicasdomel
deabelhasmelí-
feras (Apis mellifera) os padrões
de identidade e qualidade
para classificar o produto. Como a composição do de abelhas indígenas é diferente – é mais líquido e tem menos açúcares, este não pode ser chamado de mel.
Brasileiro – e clandestino. “Pura questão burocrática.
México e Venezuela têm o mesmo problema”, diz Paulo Nogueira Neto, professor titular emérito da USP e especialista em abelhas indígenas sem ferrão. “Como há legislação sobre a criação, agora você pode criar e até vender ninhos. Só não pode comercializar. Por isso o mel das Meliponíneas é vendido clandestinamente.” (Até 2004 o manejo destas abelhas, espécies selvagens, era proibido.)
Por se organizarem em colônias menores, as abelhas indígenas produzem menos mel que a Apis – e ele custa dez vezes mais. “Quem conhece, não se importa de pagar mais”, diz Marilda Cortopassi-Laurino, pesquisadora do Laboratório de Abelhas da USP.
Enquanto o Brasil não tem uma lei que respeite as características do mel das Meliponíneas, alguns produtores têm testado a desumidificação deste produto. No entanto, ainda não há pesquisas que comprovem se o procedimento não compromete o poder antibiótico e as qualidades gustativas.
“Não tenho nada contra a desidratação em si, desde que seja assumida. O que não admito é obrigar a desidratar”, diz Roberto Smeraldi, da Oscip Amigos da Terra Amazônia Brasileira
Jataís herdadas
e bem viajadas
By - Neide Rigo, nutricionista
Nossos amigos gaúchos resolveram se mudar para Barcelona e queriam porque queriam
que as abelhas ficassem comigo.
Não encontrei regulamentação sobre o
transporte de animais que mencionasse abelhas
nativas sem ferrão. Pensamos em várias possibilidades de locomoção,
todas inviáveis.
Consultamos
especialistas em meliponas e um deles nos disse
que o melhor para elas seria deixá-las no escuro,
em local fresco, que elas dormiriam e nem sentiriam a viagem. A maior prejudicada
fui eu, que nunca
havia viajado 18 horas de ônibus e sem a companhia
de ida, que voltou de avião.
Alguém tinha de ficar solto para tirar o outro da cadeia. A paranoia já tinha começado.
E, embora as três caixinhas estivessem bem acomodadas no porta malas, fiquei o tempo todo apreensiva. E se fossem mais espertas do que supúnhamos, fizessem buraquinhos na caixa e fugissem? E se um certo zumzum-zum ficasse audível e o ônibus precisasse parar? Chamariam a polícia para vistoriar o bagageiro e eu seria presa? Crime ambiental, inafiançável. Tantas horas de paranoia, mas chegaram bem.
Na primeira semana estranharam a direção do vento, os caminhos que levavam às flores e os esconderijos do pólen.
Furaram todos os botões de ipomea da vizinha, ignoraram as flores de manjericão e passaram batidas pelas flores de feijão.
Hoje, trabalhadeiras, polinizam tudo – o feijão mangalô produz como nunca. Ainda fazem zum-zum-zum e mel.
E que mel! Ácido, fluido, floral. Alquimista nenhum sabe fazer. Por esse mel, faria tudo de novo.
Alguém tinha de ficar solto para tirar o outro da cadeia. A paranoia já tinha começado.
E, embora as três caixinhas estivessem bem acomodadas no porta malas, fiquei o tempo todo apreensiva. E se fossem mais espertas do que supúnhamos, fizessem buraquinhos na caixa e fugissem? E se um certo zumzum-zum ficasse audível e o ônibus precisasse parar? Chamariam a polícia para vistoriar o bagageiro e eu seria presa? Crime ambiental, inafiançável. Tantas horas de paranoia, mas chegaram bem.
Na primeira semana estranharam a direção do vento, os caminhos que levavam às flores e os esconderijos do pólen.
Furaram todos os botões de ipomea da vizinha, ignoraram as flores de manjericão e passaram batidas pelas flores de feijão.
Hoje, trabalhadeiras, polinizam tudo – o feijão mangalô produz como nunca. Ainda fazem zum-zum-zum e mel.
E que mel! Ácido, fluido, floral. Alquimista nenhum sabe fazer. Por esse mel, faria tudo de novo.
DEPOIMENTOS
Paulo de Abreu e Lima membro do MSc Food Culture
“Temos ingredientes
incríveis, como a
grumixama, as vieiras
nativas da Ilha Grande, o
azeite extravirgem de
patauá, as pimentas
baniwa da Amazônia, o
arroz vermelho do Vale do
Piancó e muitos mais.
Acredito no agronegócio
de qualidade, no trabalho
com a cadeia completa, da
semente ao produto final”
Edinho Engel
chef do Amado
“Precisamos de uma
legislação para produtos
artesanais alimentícios que
seja ordenadora, mas não
impeditiva. E estimule os
produtores artesanais com
descontos tributários e
incentivos fiscais como forma
de afirmação de nossa
identidade cultural
gastronômica. Na Bahia,
muitos micro produtores
vendem seus produtos em
feiras livres ou barracas, mas
se quisessem vendê-los de
forma adequada não
conseguiriam.
Exemplos? Camarões secos, lambretas, siris, caranguejos, farinha de mandioca, goma, carimã, maturi, licuri, queijos de cabra e outros de massa crua”
Exemplos? Camarões secos, lambretas, siris, caranguejos, farinha de mandioca, goma, carimã, maturi, licuri, queijos de cabra e outros de massa crua”
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