Este foi mais um artigo sobre subprodutos melipônicos que achei muito interessante, e por isso reproduzo na integra. Foi extraído do http://pompeiahidromeis.com/2014/12/12/tucanaira/#comments .
Tomo a liberdade de também acrescentar um dos comentários, logo em seguida do texto, pois era uma informação que eu não sabia e acho muito importante divulgar, afinal trata-se de nossa cultura que está se esvaindo por entre nossos dedos!
Receitas podem ser vistas em outras publicações da mesma página....
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Boa leitura !!!
Medina
Olá a todos! Hoje recebi um texto muito interessante escrito pelo Marcelo Muta Ramos de São Paulo, texto este muito bem elaborado e que conta informações muito importantes sobre os hidroméis de origem nativa. Isso mesmo, nossos índios já produziam e tomavam hidromel aqui desde muito antes de qualquer colonizador chegar por essas terras. Que tal resgatarmos mais informações preciosas como essa? Fiquem com esse belo texto com que o Muta presenteou a todos nós.
Tucanaíra
(Por Marcelo Muta Ramos) O Hidromel, como já bastante falado em sua literatura – principalmente internacional – tem suas origens capazes de ser recontadas até o início da civilização, pois apesar de menos documentado, o hidromel já seria viável e desejado desde a época em que éramos seres meramente coletores. Diferente do vinho e da cerveja (cujas quantidade necessária só seria conseguida a partir do cultivo agrícola), o hidromel poderia ser produzido sempre que uma colmeia fosse encontrada. Seguindo esse raciocínio podemos imaginar o quão dispersa pelo mundo é a cultura do hidromel, e em breves pesquisas descobrir hidroméis tradicionalíssimos espalhados pelos quatro cantos do globo: África, Ásia, Europa, América, todos têm seus representantes mais conhecidos em países como México, Etiópia, China, Índia e todo um balaio de países europeus. Pensando nisso, cabe a pergunta: o Brasil, com um território tão extenso, com fauna e flora tão diversa e tendo abrigado no passado uma grande quantidade de nações nativas, não tem um exemplozinho sequer de hidromel? Nossas abelhas nativas, ou ASF (um pouco mais sobre elas pode ser encontrado nesse artigo aqui do próprio Pompéia), são quase todas mansas, não possuem um ferrão desenvolvido como as do gênero Apis (nativas da África, Ásia, Europa e Oriente Médio) e produzem meles saborosíssimos, inclusive em alguns casos em quantidade até que considerável. Nossas frutas são das mais saborosas e diversas e água (bom, pelo menos nos tempos do descobrimento) sempre foi abundante. E com tudo isso não temos um hidromel nacional? A resposta é SIM, nós temos! Junto com uma variedade de fermentados a base de raízes, cereais e frutas (onde o Cauim é um dos maiores expoentes), fermentados de mel também eram consumidos pelos índios nativos brasileiros em festas que viravam noites e se estendiam por dias a fio. Dentre as possibilidades, um dos hidroméis brasileiros encontrados é a Tucanaíra, bebida fermentada típica dos Tembés (tribo historicamente localizada no nordeste da amazônia, hoje no que seria entre o Pará e o Maranhão), produzida a partir de água, mel de nossas abelhas nativas e do saburá, que é basicamente o conjunto de potes de pólen coletados pelas ASF, pólen esse de grande qualidade, diga-se de passagem.
Com todos esses ingredientes diluídos e bem misturados, o mosto era deixado sob o sol por alguns dias (Fermentação espontânea e com leveduras indígenas… Imaginem as possibilidades aqui!) enquanto fermentava, para depois ser coado e colocado em um pote de barro que ficava pendurado sob o teto de uma casa (creio que o termo oca seria mais adequado) enquanto maturava. Infelizmente faltam mais detalhes e uma “árdua” pesquisa ainda se fará necessária. Mas tenham certeza que eu já estou criando minhas abelhas nativas para um dia tentar reproduzir a receita da forma mais precisa possível. Felizmente, uma pequena descrição de uma festa dos Tembés, a Festa Tucanaíra (descrita por Lima Figueiredo), pôde ser encontrada, como visto a seguir:
“A FESTA TUCANAÍRA
Eram dezenove horas…
O som estridente das buzinas reúne todos, tal qual o toque do clarim no quartel. Somente as mulheres velhas ficavam dentro de casa.
Guerreiros, velhos, moços e crianças formam uma linha em frente à casa do chefe da tribo, entoando um canto lúgubre. O coro só é interrompido, quando o chefe sai e com as mãos para o ar resmunga uma cantiga bárbara que é de vez em quando interrompida pelo estribilho de todos.
Aproveitam esta música então, para a dança. Os convivas descrevem dois círculos consecutivos tendo o chefe por centro. À medida que vão cantando, o círculo ora gira para a esquerda, ora para a direita. Todos batem forte os pés e a roda continua oscilante. O chefe entoa cantos que é respondido pelo coro com: gê-gê-gê.
De repente a cantoria para, a fim de que as mulheres que haviam ficado dentro de casa cantem. Aproveitam essa ocasião para beber tucanaíra, que é servida em uma cuia e passada de mão em mão. Os homens dançam com seus arcos e alternados com as moças.
Esta festa tinha o nome de penêc (dança em tupi).”
Ou seja, no ritual tínhamos hidromel, que era consumido com festa, que era acompanhado de muita dança e muita música, ou seja: o hidromel brasileiro é envolto em alegria e carrega em sua essência a alegria do povo brasileiro. Um brinde à Tucanaíra!
COMENTÀRIO:
Ips says : 15/12/2014 às 13:28
Em SC o hidromel é produzido pelos índios Kaigang há séculos. A universidade estadual de Floripa possui alguns, bem densos até, sobre o assunto.
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