Atualmente as
grandes economias mundiais buscam o desenvolvimento sustentável, mas o que vem
a ser exatamente este conceito tão exposto na mídia?
“Entende-se
por desenvolvimento sustentável aquele que procura satisfazer as necessidades
das atuais gerações sem comprometer recursos destinados às futuras.” Nesse
sentido todos devem ter a possibilidade de atingir níveis de desenvolvimento
sócio-economico e cultural, primando pela racionalidade do correto emprego e
devida preservação dos recursos da biosfera. — Essa definição surgiu na
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações
Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o
desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
Hoje já
ultrapassamos 7 bilhões de seres humanos sobre a Terra, e espera-se uma
população de mais de 9 bilhões em 2050, consequentemente a pressão da
necessidade alimentar também cresce no mesmo ritmo. Recursos como água, terras
cultiváveis são cada vez mais valorizados. Segundo especialistas, a água poderá
ser o pivô das próximas guerras. Mas na esteira da disponibilidade de água
potável tem-se a disponibilidade de alimentos, e como todos já sabem desde os
estudos primários, a base da cadeia alimentar de nosso planeta são os vegetais.
Muito se fala
em terras cultiváveis, investe-se milhões em tecnologia alimentar, sementes
trangênicas de alta produtividade e resistência às pragas, adubos químicos,
máquinas agrícolas com referenciamento por satélites, tecnologias de indução
artificial de chuvas e/ou de irrigação forçada. No entanto, apesar de tanta
tecnologia o mundo está começando a vislumbrar uma nova vertente de obstáculos
até então não considerada: a redução e/ou desaparecimento dos polinizadores e
principalmente dos polinizadores nativos.
Na maior parte
das plantações comerciais espalhadas pelo mundo o foco desse problema tem se
concentrado no fenômeno ainda não explicado do desaparecimento de enxames
inteiros de APIS. No Brasil esta problemática do desaparecimento das APIS,
apesar de significativa, ainda não sensibilizou as autoridades por um empenho
maior em pesquisas sobre o tema. Mas..., porque a expectativa dessa problemática
não tomou a mesma proporção em terras brasileiras tal como o temor verificado
por governos de outros países? Talvez pela razão de que nossas plantações de
modo geral continuam de vento em popa, com o nível de polinização ainda
adequado. Como diz um velho ditado popular: não doeu no bolso!
Na minha
visão, a área de vegetação nativa existente no território nacional ainda é bem
maior e significativa do que em países onde o fenômeno da falta de
polinizadores tem sido acompanhado com maior intensidade. Acredito que nós
brasileiros temos uma reserva biológica ainda intacta, da maior relevância, que
se constitui num amortecedor de efeitos negativos registrados em outros
continentes.
E porque esta
reserva biológica pode influenciar a ponto de fazer a diferença no desempenho
de nossas plantações comerciais? Não deve ser difícil de perceber o porquê,
especialmente quando se verifica que o Brasil é habitat exclusivo de quase 100%
das espécies conhecidas de melíponas, e também abriga mais uma centena de
espécies de trigonas.
Tendemos então
a conclusão quase imediata: Temos proteção Superior, nossa santa terra está
protegida!! Brindemos às dádivas de Deus, por nos presentear com esta
multiplicidade de abelhas nativas, eficientes polinizadoras!!
No entanto,
apesar de sermos uma terra abençoada por Deus, as abelhas nativas não podem ser
consideradas a solução definitiva, principalmente a longo prazo, à vista do
tratamento legal a que sujeita seu trato....
Lindas e
mansas abelhas, naturalmente sem ferrão, donas do melhor mel do mundo, vivem em
uma terra que pode ser considerada como encantada, no melhor estilo dos contos
de fadas ...
Numa analogia
lúdica, são terras que só os puros de coração conseguem enxergar, povoadas por
“fadas da polinização”: como na “terra encantada” dos gnomos. Aqui no Brasil
existem as “fadas da polinização” nativas das matas tropicais, as “fadas da
polinização” nativas das matas equatoriais, as da caatinga, as do cerrado, das
matas araucárias, das veredas, dos cocais, do pantanal, e muito mais. Cada família
de fadas vive e cuida do seu mundo encantado particular. E neles protegem os
animais, alimenta-os, e de quebra ignoram as fronteiras e jogam o mágico pólen de
“piripimpim” nos arredores dos seus limites, fazendo as plantas explodirem em
vida e frescor além das fronteiras de suas “terras encantadas”.
E como em
todos os bons contos de fadas, nestas “terras encantadas” têm surgido “homens
de negócios”, com alma enrijecida e quase cegos, que enxergam apenas um palmo
de seus olhos, e são incapazes de perceber tamanha riqueza existente ao seu
redor.
O cenário que
se percebe hoje, após a aprovação do código florestal, é um aumento acelerado
da fragmentação destas “terras encantadas” e consequentemente uma pressão muito
maior sobre os “povos encantados” que as habitam. Muitas tribos de “fadas
polinizadoras” não suportam tamanha invasão, acabando por se extinguirem. Outras,
ainda resistem e tentam sobreviver se adaptando a uma vida restrita e isolada,
restam corajosas e poucas outras, que migram para qualquer jardim das cidades que
avançam sobre suas terras.
As “fadas
polinizadoras” ainda dividem o que resta de seus ricos fragmentos de “terras
encantadas” com as Apis Troll. (Peço
licença aqui para este batismo, pois os Trolls são os seres que amedrontam as
criancinhas em todas as histórias de fadas, e nesta analogia, é a imagem que as
Apis passam para o “reino brasiliensis” no qual são consideradas exóticas).
Assim, nossas
“fadas polinizadoras”, já tão cerceadas e agredidas pelo entorno cinza das
grandes metrópoles e extensos desertos verdes de capim ou de monoculturas que
comprimem suas terras nativas, também lutam pela sobrevivência concorrendo com
as Apis Troll, trazidas para o Brasil pelos “homens de negócio” que nos
colonizaram.
E os meliponicultores?
Ahhh os meliponicultores !!!! São os humanos que conseguem enxergar as “fadas
polinizadoras”, entender suas necessidades e manter contato direto com elas.
Nem todos são “santos”, tem os que aprontam, os rebeldes, os curiosos, os
aproveitadores, os conscientes, mas de maneira quase unânime são grandes
admiradores desse mundo mágico e tentam manter um esforço conjunto para
proteger o reino das “terras encantadas” e seus habitantes, sejam eles “fadas
polinizadoras” ou “Apis Troll”. Os meliponicultores têm consciência de que as
“terras encantadas” precisam ser preservadas dos ataques dos “homens de
negócios”.
Completando
esta lúdica comparação, não podemos nos esquecer dos alquimistas. Devido a sua
natureza mística conseguem enxergar e compreender as “fadas polinizadoras”, as
Apis Troll e o mundo mágico onde esses seres moram. Estudam com lupa cada
detalhe, diferenciam todas as tribos e tentam cientificar seus hábitos e
costumes. Reconhecem a batalha Quixotesca travada pelos meliponicultores para
defender esse mundo mágico, mas desaprovam-lhes algumas atitudes. Alguns
confundem o meliponicultor com o meleiro, que é um “homem de negócio”
disfarçado de meliponicultor. Os alquimistas vivem tentando provar aos “homens
de negócios” a importância desses seres mágicos da polinização, mas suas
pesquisas ainda não os convencem, e tal como os meliponicultores amargam uma
negação por parte dos que, sem sensibilidade e visão, detém o poder.
A maioria dos
“homens de negócios” ironiza a postura dos meliponicultores e tentam de todo
modo invadir esses resquícios de espaço em que a vida ainda pulula. Derrubam os biomas para implantar pastos e
monoculturas tirando o pouco que resta de refúgio. Alguns “homens de negócios”
em um misto de fé e incredulidade, resolvem agradar aos meliponicultores, permitindo
restrito trabalho com até 50 famílias de “fadas polinizadoras”. Mas, que não se
tente ter maiores projetos, as exigências tornam-se insuperáveis, comparáveis
ao que se exige das ApisTroll. Assim, cerceados com normas e leis inadequadas,
eles desistem !!!
Resumindo,
como os “homens de negócios” não conseguem enxergar as “fadas polinizadoras”, e
tampouco seu mundo mágico de possibilidades, fazem Leis as escuras e não
conseguem determinar quem serão os verdadeiros responsáveis para fiscalizar a
aplicação destas mesmas Leis, pois os fiscais disponíveis também não conseguem
enxergar as “fadas polinizadoras” e seu mundo mágico para poderem fiscalizar.
Ao fim não se consegue distinguir o que as Leis permitem, sua razão de ser e a
definição de responsabilidades.
Assim, para
quem acredita, temos no Brasil uma solução viável para a crise da polinização
mundial, temos como atender com eficiência plantações comerciais e nativas.
Somos capazes de alimentar muitas das 9 bilhões de bocas que são esperadas para
2050, mantendo a sustentabilidade do negócio. Temos ao redor de 400 espécies de
abelhas nativas, cada qual com suas características específicas e capazes de se
adequar a trabalhos variados nas mais diversas lavouras comerciais. A capacidade
de forrageamento vibrátil das abelhas nativas tornam-nas eficientes
trabalhadoras do campo. Além disso, elas também produzem mel com
características tanto de gourmet como medicinais, e sua ação na conservação e
ampliação dos fragmentos bióticos é inquestionável.
Entretanto por
mais que desenvolvamos técnicas de manejo dessas abelhas, por mais que se lute
pela manutenção das áreas nativas, por mais que meliponicultores e
pesquisadores unam suas forças em um objetivo comum, é imprescindível que surjam
Leis que harmonizem a multifacetada capacidade desta novíssima cadeia produtora
aos interesses ambientais, sociais e econômicos.
Enquanto a
abelha nativa não for reconhecida legalmente como um recurso econômico e ao
mesmo tempo fator de sustentabilidade, totalmente nacional, gerador de
múltiplas riquezas sem comprometer a capacidade das gerações futuras, viveremos
apenas no mundo dos contos de fadas. As abelhas nativas precisam de tratamento
diferenciado e específico, eficiente e aplicável na prática. Enquanto não for
esse rumo, a solução para vários problemas que afligem o mundo ficará sem uma
perspectiva a curto prazo.
Medina
Rio de Janeiro, 31/08/2014
Eu já sou fã das publicações do colega Medina. A qualidade do seu texto e a preocupação com o aspecto lúdico torna suas publicações um excelente material de divulgação, além de ser uma agradável leitura. Parabéns!
ResponderExcluirPubliquei um livro infantojuvenil em 2014 que tem muito a contribuir com a divulgação da importância das abelhas nativas. Convido-os a conhecerem e entrarem em contato. Gratidão.
ResponderExcluirNESSE LINK VOCÊ CONHECE O LIVRO ATÉ PG. 11:
http://www.youblisher.com/p/870167-Yvy-Pora-Porau-e-o-Rio-de-Mel/
"YVY PORÃ PORAU E O RIO DE MEL"-- livro infantojuvenil
Autora Ângela Hofmann. / Ilustrações Dane D'Angeli. / Porto Alegre: Editora Mediação, 2014.
A história deste livro se passa em Yvy Porã, um povoado formado por pessoas vindas de várias aldeias indígenas que haviam perdido seus parentes.Com o passar dos anos, devido a uma crença espalhada na região, o que antes era abundante passou a ser para eles pouco e escasso. Quase nada tinham, quase nada sabiam, quase nada queriam, nem mesmo conseguiam mais ter seus filhos.
Dentre as mulheres, Jaci, certa noite, teve um sonho com uma abelha que indagava a ela onde estavam as crianças. Seu esposo Rayra então lhe pediu “teçá”, “olhos atentos”, pois uma mensagem importante parecia ter chegado para todos os que lá moravam.E foi assim que Yvy Porã se transformou em Yvy Porã Porau...
“Yvy Porã Porau e o Rio de Mel” trata de temas pertinentes a todos nós brasileiros, como as sociedades indígenas emergentes, as relações de reciprocidade e trocas, a comunicação com os demais seres da natureza, e o resgate da identidade e da memória ancestral como continuidade da sobrevivência dos povos e do próprio planeta.A presença da abelha como mensageira alerta para a mudança nas atitudes e relações entre a comunidade, ocupando um lugar central nessa história.
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Ângela Hofmann
(51) 9932.5230 – angelaclaraluz@gmail.com
http://angelahofmann.blogspot.com.br/
http://rsescritores.blogspot.com.br/search/label/Angela%20Hofmann