Reproduzo abaixo uma matéria de Gabriela Malta, em que discorre sobre trabalho de conscientização da importância das abelhas sem ferrão feito pela USP. Em evento voltado para o público, Vanderson Cristiano de Sousa mestrando pelo Instituto de Biociências da USP, apresenta as abelhas e ainda faz um tour com as pessoas pelos jardins do Instituto.
Fica aqui registrado essa iniciativa, em que a USP vem juntar forças à luta travada pelos meliponicultores pelo reconhecimento inegável da importância das abelhas nativas para a sustentabilidade do que resta de nossas matas.
MEDINA
Comunidade conhece importância das abelhas sem ferrão no CienTec
Com
o objetivo de apresentar essa importante espécie de inseto ao público, o
Parque CienTec da USP recebeu no último sábado, dia 9, a palestra Abelhas Sem-Ferrão no dia-a-dia: uma visita aos seus ninhos.
“Mesmo as espécies que não são efetivas na polinização têm um efeito
naquelas que são, quando cruzam sua rota e as obrigam a mudar de
caminho, fazendo com que visitem mais plantas”, explicou o palestrante
Vanderson Cristiano de Sousa, mestrando pelo Instituto de Biociências
(IB) da USP.
No Brasil, existem cerca de 300 espécies de
abelhas sem-ferrão. As mais populares são as jataís, as irapuás
(“abelhas-cachorro”), as jataís-da-terra, plebeias, e as
mirins-preguiça. Os nomes são quase todos indígenas, o que leva algumas
pessoas a chamarem as abelhas sem-ferrão de abelhas indígenas. “Os
índios brasileiros tinham uma relação positiva com as abelhas, e existem
registros de que eles colhiam o mel que elas produzem”, contou
Vanderson.
Ninhos Organizados
Cada espécie
constrói um tipo de ninho: em ocos de árvores, em antigos ninhos de
formiga abandonados, no alto das árvores. “Quando uma colônia está muito
forte, e é preciso fundar uma nova, as abelhas vão atrás de um novo
local para construir um segundo ninho. Elas procuram locais onde possam
construir a entrada oposta ao vento e, dependendo do tamanho do novo
espaço, elas já sabem qual é a quantidade de recursos que vão precisar
alocar”, explicou Vanderson. O biólogo também contou que algumas das
espécies que constroem ninhos em ocos de árvores, como as jataís e as
plebeias, se adaptaram bem ao meio urbano, porque podem construir ninhos
em qualquer cavidade. No próprio Parque CienTec existem ninhos em um
corrimão e em um muro. Mesmo assim, ele adverte que existem as espécies
que não conseguem fazer esta adaptação, e mais do que nunca é importante
preservar o meio ambiente em que vivem.
Os ninhos das espécies
têm entradas típicas, que podem ser construídas de barro ou cera,
produzida pelas próprias abelhas. Internamente, os ninhos guardam o
alimento em estruturas chamadas potes e, no centro, ficam localizadas os
favos de cria, onde a rainha deposita os ovos em células individuais. A
célula só recebe o ovo quando já está cheia de alimento larval. São as
operárias que constroem as células e preenchem a célula com alimento,
estimuladas pela rainha, que fica ali perto. Cada espécie organiza os
favos de cria de uma maneira, e eles podem estar dispostos de forma
organizada, ou ainda formando cachos.Os potes guardam polén ou mel. As abelhas sugam o néctar da flor e enzimas de seu aparelho digestivo processam esse néctar. Ao chegar na colmeia, elas regurgitam o néctar nos potes, onde ele perderá grande parte da água, transformando-se em mel. “Cada operária vive entre 20 e 30 dias e, no caso das abelhas indígenas, produz menos de uma colher de chá de mel em toda vida”, esclarece Vanderson. Esse processo precisa acontecer em temperaturas controladas e as operárias são também responsáveis pela manutenção das temperaturas. Para isso, elas batem as asas bem rápido, criando correntes de ar. Na colmeia, o mel é utilizado na alimentação das abelhas.
A organização do trabalho das operárias
acontece a partir de sua idade. As abelhas mais novas ficam dentro dos
ninhos, perto dos favos de cria, e ajudam as novas abelhas a nascerem. A
partir dos seis dias de idade, elas começam a executar outros trabalhos
“internos”, como construção de novos potes. Só a partir dos 20 dias de
idade que elas saem dos ninhos e realizam as atividade campeiras.
O
controle das operárias é exercido pela rainha a partir dos ferormônios,
que são substâncias químicas liberadas por ela. Cada colmeia tem pelo
menos uma rainha, mas, segundo Vanderson existem colônias com mais de
uma rainha. Geralmente, as rainhas são as únicas abelhas que ovopositam
na colmeia. “No caso das abelhas brasileiras, as operárias conservaram o
abdômen com ovário, então elas podem ovopositar às vezes, e isso gera
conflito”, diz Vanderson. Essas operárias, porém, não acasalam, então
suas larvas serão sempre machos, por que são haplóides, isto é, carregam
apenas uma parte dos cromossomos.
Ainda existem controvérsias
sobre como acontece o surgimento de uma nova rainha. “Entre as abelhas
sem ferrão, existem duas “tribos”, as Trigonini e as Meliponini.
Acredita-se que, nas Trigonini, uma nova rainha surja em células de cria
maiores e a larva que se tornará rainha recebe mais alimento. Entre as
Trigonini, supõe-se que as novas rainhas sejam determinadas
geneticamente”, explicou Vanderson.Dia de ecólogo
Depois
da exposição, o biólogo levou o público que estava assistindo a
palestra para um passeio pelo Parque CienTec em busca dos ninhos das
abelhas sem ferrão, em um “Dia de ecólogo”. Esse profissional estuda as
relações ecológicas que ocorrem na natureza. Fazem parte de seu campo de
trabalho as interações entre as espécies, populações e comunidades, e a
relação delas com o meio a sua volta.
O
último senso, feito entre 2007 e 2010, encontrou 83 ninhos de abelhas
sem ferrão por todo o Parque. “Tal mapeamento é importante para elaborar
ações de preservação das colônias”, observou o pesquisador.
No
passeio foi possível observar as entradas típicas dos ninhos das
abelhas preguiça-mirim e das boca-de-sapo, perceber como algumas
espécies se adaptam bem ao ambiente urbano, construindo ninhos nos muros
e corrimões do Parque e sentir na pele o mecanismo de defesa das
abelhas tubuna. Como elas não têm ferrão, uma forma de irritarem outros
animais e se defenderem é se enrolando nos pelos ou cabelos dos animais.
Uma vez ali, elas liberam um odor que atrai as demais abelhas. Não
chega a ser perigoso porque elas não têm ferrão, mas é algo que pode
incomodar bastante a “vítima”.
A atividade atraiu um
público variado: criadores de abelha, moradores da região e estudantes.
Victor Carvalho, estudante do Ensino Médio, foi à palestra acompanhado
pelo professor de ciências. Ele ainda não sabe se vai querer ser
biólogo, mas contou que aprendeu bastante com a atividade. Valdete Alves
da Silva e a neta, Gabriela, estavam visitando o Parque CienTec pela
terceira vez. “Sempre morei na região e, até o ano passado, só tinha
visitado o Zoológico e o Jardim Botânico. Participo das atividades do
Parque porque gosto de aprender”, disse.
Legal Medina.
ResponderExcluirBonita postagem e enriquecedora.
Abçs
Meliponario Pivoto