(Este artigo foi publicado na edição de maio/2000 da revista “Mensagem Doce”. As pequenas modificações atuais do texto visam incluir a contribuição do prezado amigo Paulo Menezes, de Mossoró (RGN), que adotou esse alimentador em suas centenas de colônias de Jandaíras, com ótimos resultados, conforme relato pessoal e postagens em seu blog (http://www.melmenezes.com.br/blog/2010/12/alimentador-para-abelhas-sem-ferrao/). Ao Paulo, meu agradecimento por desenvolver o alimentador.)
A alimentação artificial é muitas vezes indispensável para a manutenção de colônias de abelhas criadas
pelo Homem; isto já é conhecido desde a Antigüidade. Com referência aos meliponíneos não poderia ser
diferente e a prática o confirma, especialmente nas épocas mais frias do ano e quando há escassez de
néctar. Para este fim são usados xaropes de diversas composições, mas que, basicamente, consistem de
uma solução de açúcar em água.
Existem duas maneiras de oferecer este xarope às abelhas:
1 – Colocando-o fora da colméia
2 – Mantendo-o dentro da colméia
Ambos os métodos apresentam vantagens e desvantagens. A alimentação externa, fora da colméia,
tem a vantagem de ser administrada a qualquer momento, sem necessidade de abrir a caixa de criação e
expor, assim, a colônia ao esfriamento, ao estresse e aos inimigos naturais. Todavia, quando se deixa uma
solução açucarada ao ar livre atrai-se não apenas as abelhas de nossas colméias mas, também, as Apis
mellifera e outros insetos que vivam por perto, possibilitando lutas, ferroadas e saques. Por estes motivos, um
alimentador artificial que unisse a capacidade de ser oferecido às nossas colônias sem obrigatoriedade de
abrir suas caixas e, ao mesmo tempo, permanecesse exposto apenas no interior das colméias seria,
acredito, interessante à meliponicultura e este é o assunto do presente trabalho.
A idéia desse alimentador baseia-se na colocação de um tubo de PVC rígido, desses habitualmente
usados em construção civil para distribuição de água potável, atravessado entre duas paredes de uma
colméia racional e aí fixado com adesivo à base de silicone. Neste cano (tubo fixo) é cortada uma “janela”
retangular para que as abelhas tenham acesso a um outro tubo (tubo móvel) cujo diâmetro permita embuti-lo
no primeiro, mas sem folgas. No cano interno faz-se, ao centro, uma concavidade que quase alcance o
lado oposto, e perfura-se o seu fundo, tornando-a uma espécie de funil. Quando abastecemos o tubo móvel
com xarope a concavidade também se encherá com a solução açucarada, permitindo a alimentação das
abelhas. Em uma das extremidades do cano móvel são escavadas roscas para que possa ser vedada por
tampão, também em PVC, enquanto a outra extremidade é fechada por rolha de cortiça.
A seguir será orientada, passo a passo, a construção do alimentador, cujas medidas estão ajustadas às
colméias tamanho médio, modelo Paulo Nogueira-Neto, descritas na edição 1997 do seu livro “Vida e
Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão” (Editora Nogueirapis). É possível modificar tais medidas,
adaptando-as a diferentes modelos de colméias.
TUBO FIXO
Separa-se um pedaço de 200 mm de cano de PVC rígido com 21 mm de diâmetro interno. Marca-se o
centro do tubo e corta-se uma “janela” de 40 mm de extensão, passando por este centro, aprofundando-a
até o meio do tubo (figura 1). O uso de uma serra de corte cilíndrica (serra cilíndrica de tungstênio) montada
no arco facilita bastante este trabalho pois, com ela, pode-se recortar o plástico em qualquer sentido. Depois,
por meio de uma lixa grossa, retira-se o polimento deste pedaço de cano, deixando-o bem áspero para
melhor aderência da cola às suas extremidades, ao embuti-lo nas paredes da colméia, e também para
facilitar a locomoção das abelhas sobre ele.
Para embutir os tubos fixos nas colméias PNN tamanho médio deve-se fazer dois orifícios, com broca
chata de uma polegada, diametralmente opostos nas paredes maiores das gavetas superiores, iniciando-os
em um ponto situado a 40 mm da aresta lateral mais próxima e a 30 mm da aresta superior. Desta maneira,
o tubo fixo ficará bem próximo ao piso e ao lado menor da gaveta (figura 2).
TUBO MÓVEL
Corta-se um pedaço de 233 mm de extensão de um tubo com 21 mm de diâmetro externo (os
eletrodutos de PVC rígido são adequados), lixa-se até deixá-lo bem áspero e escavam-se roscas em uma das extremidades. Faz-se pequena marca no centro do mesmo e aquece-se o local à chama de isqueiro a
gás ou lamparina a álcool com cuidado para não amolecer demais o plástico nem deixar perfuração alguma.
Pouco a pouco, à medida que o PVC for amolecendo, força-se a região central do cano com algum objeto
fino mas de ponta romba - um estilete de metal com a extremidade arredondada é útil. Desta maneira, o
plástico vai sendo deformado, criando uma concavidade para dentro do tubo, até quase encostá-la na
superfície interna do lado oposto. A seguir, já com o material frio e enrijecido, perfura-se o fundo da
concavidade com uma broca para madeira com 2 mm de diâmetro, comunicando-a com o interior do
tubo e possibilitando, desta maneira, a passagem do xarope quando for aí colocado mas, não, das abelhas.
Faz-se também dois ou mais orifícios, com 2 mm de diâmetro, nas bordas da mesma concavidade, para permitir a
entrada de ar no tubo. Para terminar, atarraxa-se completamente um tampão, também de PVC, em uma das extremidadades, (figura 3).
Após um a dois dias da colocação do xarope no alimentador, tira-se o tubo móvel que lá estava para
impedir a fermentação do açúcar que possa restar. Isto é feito com facilidade, pois basta introduzir outro tubo móvel devidamente montado, mas sem xarope dentro, pelo lado arrolhado daquele que está na colméia, o que empurrará o anterior para fora
e assumirá o lugar dele, sem permitir a saída de abelhas ou a entrada de forídeos. Quando se desejar alimentar a colônia, um tubo móvel abastecido com xarope empurrará para fora o outro, vazio.
Alimentador montado em caixa PNN
Luiz Augusto Bonacossa Caldas (caldaslab@hotmail.com)
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