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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Como as abelhas se comunicam?

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As abelhas escolhem as flores que vão visitar?

Devemos considerar a enorme variedade de tamanho, forma do corpo e possibilidades de vôo das mais de 20.000 espécies de abelhas que existem no mundo. Estudos de avaliação de fauna de abelhas do Brasil (onde se estima a presença de 3000 espécies de abelhas) e as flores que visitam têm sido feitos nos últimos 35 anos, de modo que temos já cerca de 65 levantamentos realizados com metodologia padronizada em várias regiões do Brasil (Pinheiro-Machado 2002). Neles encontramos dados sobre a visita de abelhas às flores. Baseados nos dados brutos apresentados nestes trabalhos de levantamento de fauna de abelhas, Biesmeijer et al. (submetido) e Biesmeijer et al. (2003), utilizando a técnica de metanálise, compilaram dados de 28 estudos sobre a visita das abelhas sociais às flores, no Brasil, onde o número de abelhas que visita cada espécie de planta estava mencionado. Foi construída uma matriz contendo 72 espécies de abelhas sociais e 1725 espécies botânicas. Os resultados das análises, feitas a partir desta matriz, indicam que as diversas espécies de abelhas mostram preferências intrínsecas por espécies de plantas. Scaptotrigona, Partamona e Melipona são mais seletivas;
Paratrigona é mais oportunista. Apis e Trigona spinipes são supergeneralistas e se sobrepõem nas plantas utilizadas. Bombus, Trigona hyalinata e Nannotrigona são colocadas à parte. Todas as espécies sociais visitam muitas espécies de plantas, mas o tamanho do nicho varia (indicação da diversidade da dieta: número de itens da dieta e freqüência relativa da visita, avaliados pelo índice de Shannon). Estes dados de visita de abelhas às flores nos dão indicação de preferências florais, podendo ser úteis nos estudos de ecologia da comunidade, polinização aplicada e conservação ambiental. Através dos dados obtidos podemos selecionar plantas para monitorar a população de polinizadores (por exemplo, ver Brown and Albrecht 2001). Também podemos selecionar os polinizadores dentre uma lista de visitantes florais, levando em conta questões filogenéticas. Então, mesmo estudando a visita de abelhas às flores em ambientes naturais ou áreas urbanas, este conhecimento pode ser aplicado para diversas finalidades, inclusive na Agricultura.

Assim como as abelhas Apis mellifera (von Frisch 1967; Dyer 2002), as abelhas-sem-ferrão também têm a capacidade de comunicar com precisão umas às outras a localização de uma fonte de alimento. Logo pela manhã abelhas forrageiras saem à procura de boas fontes de alimento; voltam para a colônia com mel ou pólen ou resina, e comunicam às companheiras do ninho onde está a fonte e qual a sua riqueza. Há uma escolha dos recursos a serem explorados, de modo que as abelhas visitam continuamente um ou mais indivíduos da mesma espécie de planta durante algumas horas, o que auxilia e possibilita a fertilização cruzada. Os mecanismos de comunicação variam nas espécies de meliponíneos estudadas até o momento.

Em abelhas do gênero Melipona, sabe-se que os sons constituem-se em um componente importante da comunicação, estudado em diversas espécies do gênero (Esch et al. 1965; Hrncir et al. 2000; Aguilar and Briceño 2002; Nieh et al. 2003c). Os sons emitidos pelas abelhas campeiras, ao retornarem ao ninho e oferecerem seu alimento às companheiras de ninho, estão relacionados com a qualidade da fonte alimentar e há fortes evidências que também indiquem com precisão a distância da mesma (Nieh et al. 2003c), embora ainda exista polêmica sobre essa última afirmativa (Hrncir et al. 2000; Aguilar and Briceño 2002). Ainda não se conhecem os mecanismos que as abelhas desse gênero utilizam para comunicar a direção da fonte de alimento.

Recentemente, descobriu-se que a capacidade para comunicar a altura da fonte de alimento varia nas espécies do gênero Melipona, e provavelmente tem relação com o hábitat de origem das mesmas. A abelha Melipona bicolor, assim como Melipona panamica (Nieh and Roubik 1995), tem a capacidade de comunicar a altura da fonte de alimento quando ela está na altura do dossel (assim como a distância e direção), enquanto que Melipona mandacaia não tem essa capacidade. Melipona bicolor é uma espécie originária da Mata Atlântica, cujo dossel pode alcançar mais de 15 metros de altura, enquanto que Melipona mandacaia é nativa da Caatinga, uma mata com altura de dossel significativamente menor (Nieh et al. 2003b).

Já em abelhas do gênero Trigona pouco se conhece sobre os mecanismos intracoloniais que as operárias utilizam na comunicação de fontes de alimento, mas sabe-se que elas utilizam trilhas de cheiro para indicar às companheiras de ninho a direção da fonte. Em Trigona hyalinata as operárias são capazes de chegar em grande número e expulsar qualquer abelha competidora da fonte de alimento. Elas utilizam trilhas de cheiro que têm a função de permitir que as operárias cheguem com precisão à fonte alimentar, embora a trilha não cubra toda a distância do ninho à fonte. Nessa espécie e em Scaptotrigona aff. depilis (Schmidt et al. 2003) a trilha só cobre uma parte da distância, sendo mais presente na própria fonte (Nieh et al. 2003a), diferentemente do encontrado anteriormente em T. spinipes (von Frisch 1967), onde a trilha cobriu a distância total do ninho à fonte.
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Bem, se por acaso passou pela cabeça de alguém que o texto acima poderia ser meu, informo que não é. Esse texto foi retirado de um trabalho da Dra. Vera Lúcia.


Dra. Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, em sua conferência sobre As abelhas e seus impactos nas propriedades rurais, no 10º Congresso IberoAmericano de Apicultura.
Foto do Site da Apacame.

Departamento de Ecologia; Instituto de Biociências da Universidade de S. Paulo
Rua do Matão, travessa 14, n. 321. CEP 05508-900. S. Paulo, SP, Brasil

Clique no nome do Artigo para baixá-lo na sua integra, versão em PDF. Com certeza, vale a pena ler esse artigo.

Esse trabalho foi apresentado no 1º Congresso Brasileiro de Meliponicultura, em Natal/RN em 2004, junto ao XV Congresso Brasileiro de Apicultura.

Mas na verdade o que eu estava procurando, era alguma coisa sobre a abelha Melipona panamica, cuja foto foi publicada no site Meliponas da Nicarágua, na segunda feira passada. Eu gostei muito da Jicote Cacao, como é chamada popularmente e tentei aprender um pouco sobre ela.


Não encontrei muita literatura sobre essa abelha, só sei que é uma abelha pouco populosa, enxames entre 500 e 800 abelhas adultas, boa produtora de mel, que é de excelente qualidade. O seu território se estende do Brasil, norte da floresta amazônica, até a Guatemala.

Foi uma das abelhas estudadas por Roubnik, pesquisador americano que se especializou em zumbidos de abelhas, quer dizer, estudou a importância dos sons na comunicação das abelhas. Roubnik já apareceu em nosso Blog, numa foto junto com grandes mestres de nossa Meliponicultura.
João Camargo, PNN, Pd. Moure e Roubik

Parece que foi Roubnik que descobriu que a Melipona panamica, assim como a nossa abelha Melipona bicolor, têm a capacidade de transmitir às suas companheiras a posição exata de uma fonte de alimento ou resina.

Também encontrei uma matéria com David Ward Roubnik nos arquivos do “Scientific  American Frontiers”, onde ele e seu colega James Nieh, nos falam mais sobre a comunicação das abelhas.
 

Clique nas Imagens para abrir o artigo.

Uga,
José Halley Winckler

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