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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As boas ladras

Vocês conhecem a castanha do Brasil?

A castanha-do-Brasil, também muito conhecida como castanha-do-pará, é a semente de uma árvore nativa da floresta Amazônica, a Castanheira (Bertholletia excelsa), que é considerada uma das mais importantes dessa região.

Na Castanheira tudo é grande, a árvore é de grande porte, pode atingir até 50 metros de altura e na floresta sempre sobressai em relação as outras arvores.
Castanheira (Bertholletia excelsa)
Foto: Hugo Kern, no site da Embrapa.

A castanheira produz frutos conhecidos como “ouriços”. Esses frutos possuem uma casca lenhosa bastante dura e podem pesar até 2 quilos.
Os "ouriços" e as sementes com a casca
Dentro tem entre 10 e 25 sementes.
Sementes sem casca.
As flores das castanheiras também são grandes
Foto: Rui Peruquetti

As flores tubulosas, grandes, dispostas em panículas terminais, possuem seis pétalas brancas ou esbranquiçadas e são cobertas por outra pétala, transformada em um capuz, que precisa ser levantado pelos seus polinizadores, durante a polinização. Estão dispostas em inflorescências, onde uma ou duas flores se abrem a cada dia.

A flor da castanheira é visitadas, por diversos tipos de abelhas. Mas nem todas conseguem polinizá-la, por não conseguirem erguer o capuz. 

Em recente estudo, duas famílias de abelhas foram registradas visitando a flor da castanheira, Apidae e Megachilidae, sendo esta última representada apenas por uma espécie, Megachile cf. orbiculata  enquanto a família Apidae foi representada por 25 espécies reunidas em sete tribos, dentre elas aquelas quatro consideradas  polinizadoras da castanheira, Bombini, Centridini, Euglossini e Xylocopini.

As abelhas sem ferrão (da tribo Meliponini) também foram registradas visitando essa flor, 12 espécies, sendo que a maioria tentava entrar na flor da castanheira forçando o capuz, mas sem sucesso, devido ao seu tamanho. Entretanto seis espécies de Meliponini mesmo assim permaneceram grande período de tempo nessas flores.

Devido à estrutura floral e ao tamanho das flores da castanheira, essas abelhas não foram consideradas polinizadoras, pois não conseguiram levantar o capuz. Entretanto, três delas coletaram grãos de pólen caídos sobre os limbos das pétalas, ou entraram em flores com as lígulas semi-abaixadas devido à pressão exercida na região abdominal dos polinizadores quando estes estavam dentro das flores, essas abelhas foram consideradas como oportunistas: Tetragona goettei (Friese), Tetragona kaieteurensis (Schwarz) e Frieseomelitta trichocerata Moure.

Já outras três espécies de abelhas sem ferrão descobriram que podiam conseguir os grãos de pólen pelo roubo do carregamento polínico das escopas e corbículas das abelhas polinizadoras e foram classificadas como ladras: Trigona branneri Cockerell, Trigona fuscipennis Friese e Trigona guianae Cockerell. As abelhas sem ferrão agrediam as abelhas polinizadoras com  mordidas nas asas, pernas e antenas para conseguir o seu alimento e com isso na maioria das vezes, depois do saque, os polinizadores optavam por dirigir-se a flores de outros ramos ou ainda de outras castanheiras, próximas.

A castanheira é uma espécie de planta com sistema reprodutivo auto-incompatível, sendo polinizada somente se seus polinizadores visitarem outros exemplares da planta. Desse modo, o artigo mostrou que é possível que as abelhas sem ferrão, afetando a atividade de forrageio dos polinizadores, possam estar contribuindo para a polinização cruzada da castanheira, ao impedi-los de visitarem muitas flores de um único indivíduo, forçando-os a visitarem outros indivíduos da mesma espécie.

Se a literatura e o cinema consagraram Robin Hood, agora nós também estamos descobrindo que temos abelhas que são "boas ladras", com seu roubo ajudam na preservação de uma espécie. E não é pela sobrevivência dos mais fortes.

Pena eu não ter conseguido fotos dessas abelhas. 

Uga,

José Halley Winckler



As imagens dessa página foram retiradas dos sites Correio Gourmand, Arboretto e  Agência de Informação Embrapa.

O artigo: Polinizadores de Bertholletia excelsa(Lecythidales: Lecythidaceae): interações com abelhas sem ferrão (Apidae: Meliponini) e nicho trófico, de Charles F. Santos e Maria L. Absy, foi publicado em: Neotrop. entomol. vol.39 no.6 Londrina Nov./Dec. 2010, pode ser obtido na íntegra em: http://www.scielo.br/pdf/ne/v39n6/v39n6a02.pdf


Caso alguém tenha imagens das abelhas aqui mencionadas, por favor informe através do formulário de comentários. Obrigado.

Um comentário:

  1. Amigho Winckler,

    parabéns pela bela postagem,realmente é muito interessante...Nesse mundão de meu Deus,existem muitas coisas belas ,que ainda não conheçemos...

    Abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.

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