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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Diários do pioneiro ambiental Paulo Nogueira Neto










22. Diários do pioneiro ambiental Paulo Nogueira Neto
Cadernos do criador do primeiro órgão ambiental federal do Brasil, na década de 1970, são transformados em livro


Numa noite de 2003, uma pilha de cadernos azuis amarrados por cordões de algodão parou no colo da advogada Flávia Frangetto. "Quero que você me ajude a transformá-los em livro", pediu Paulo Nogueira-Neto, dono dos papéis amarelados pelo tempo. Flávia passou aquela madrugada em claro, encantada com os diários do homem que inaugurou o primeiro órgão ambiental federal do Brasil, na década de 1970: a Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema). Algum tempo depois, ligou para ele avisando: "Isso aqui é tão fascinante que o livro já está pronto".


Pronto mesmo, o "Diário de Paulo Nogueira-Neto - Uma trajetória ambientalista" só ficou agora, no finalzinho de 2010, pela editora Empresa das Artes. Afinal, eram quase 15 mil páginas manuscritas contando os bastidores de uma carreira ambiental tão vasta quanto frutífera. "Comecei a escrever no primeiro dia que assumi o cargo. É coisa de família, meu pai e meu avô também fizeram diários. É uma família de diaristas", brinca.


Não é para menos. Nas veias de Nogueira-Neto corre o sangue de José Bonifácio, Domenico Vandelli e Campos Salles. História para contar, portanto, não falta. E alguns dos capítulos mais importantes da trajetória ambiental brasileira estão ali, nas mais de 800 páginas que resultaram o livro. Tudo com um olhar franco, sensível, crítico. E de dentro dos corredores oficiais.

Partindo do zero

Criada na esteira da Conferência de Estolcomo, em 1972, a Sema nasceu modesta. "Eu tinha exatamente cinco funcionários e três salas pra resolver os problemas do meio ambiente do Brasil inteiro", recorda o pioneiro, que à época lecionava no Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em Direito e História Natural.

Muitas passagens do diário evidenciam como a missão foi árdua. Ainda mais num tempo em que o desenvolvimento era tocado no estilo custe o que custar. "Hoje me sinto muito cansado, quase exausto. O serviço na Sema é ininterrupto, pesado e tensionante", escreveu em julho de 1979, sem perder, porém, as estribeiras: "Mas me fascina".

"Quando Paulo saiu da Sema, deixou muita coisa bem estruturada. Ele partiu do nada", lembra o almirante Ibsen de Gusmão Câmara, antigo militante da conservação marinha e amigo de Nogueira-Neto. E o almirante não exagera. Além da micro equipe que o ex-secretário especial de Meio Ambiente tinha, o orçamento para a pasta não chegava a 1% dos recursos do Ministério do Interior, ao qual pertencia a Sema. "Nossa carência de recursos é aguda", escreveu o ex-secretário à época.

O jeito foi tentar ecoar a importância da secretaria e ir cavando apoio, o que Nogueira-Neto fazia como ninguém. Em pleno governo militar, ele não abraçou partidos ou ideologias. A única coisa que abraçava era a causa ambiental. "Fui duas vezes convidado a me filiar ao partido do governo e rejeitei. Eu procurava fazer serviço público, para todos", diz, o que confirma Ibsen Câmara: "O Paulo nunca se meteu em política. Ele administrava a Sema de maneira puramente técnica, profissional. Isso fez com que atravessasse várias anos".

Os frutos

Foram 12 os anos à frente do órgão que mais tarde se tornou Ibama e foi embrião do Ministério do Meio Ambiente. Tempo suficiente para que sua estrutura engordasse e Nogueira-Neto deixasse um legado generoso. "Ele deixou uma legislação ambiental avançada, começou com os licenciamentos ambientais e criou as primeiras Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (APAs)", recorda o engenheiro agrônomo Alceo Magnanini, que à época era diretor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), subordinado ao Ministério da Agricultura.

Volta e meia os dois se encontravam para trocar palpites sobre a criação de novas áreas protegidas. Um total de 3,2 milhões de hectares viraram unidades de conservação na gestão do ex-secretário. "A presença de Paulo possibilitou que a área ambiental saísse do marasmo", afirma Magnanini.

Quando deixou a Sema, o caminho de Nogueira-Neto parecia estar só começando. Além de ter ajudado a fundar o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e outros conselhos, ele passou por ONGs, criou fundações, ganhou prêmios e homenagens e representou, com mais um membro, a América Latina na Comissão Brundtland, o famoso grupo internacional de onde saiu a expressão "desenvolvimento sustentável".

De 1984 a 1987, ele rodou o mundo com os outros 22 membros da comissão, em debates amplos e complexos sobre os problemas ambientais do mundo inteiro. Em seus diários, conta como discussões atuais já eram levantadas naquela época, como as conseqüências do desmatamento: "Desaparecendo as árvores, rompe-se o ciclo hidrológico (evaporação, chuvas etc.) e a agricultura é muito atingida", escreveu, em 1985.

Os 'causos' também entravam nas anotações. Como na ocasião em que a comissão foi visitar a Amazônia poucos dias depois que o governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, havia feito um discurso dizendo ser pura bobagem proteger a floresta da região, que "não acabaria nem com mil anos". Irritados, alguns membros se recusaram a ir ao jantar oficial em que estaria o governador. Nogueira-Neto teve que atacar de diplomata e conseguiu acalmar os ânimos: "Mantive a conversação entre a doutora Brundtland, eu e o governador a mais animada possível para criar uma boa atmosfera", escreveu. E o jantar terminou em paz.

Assim, equilibrado e conciliador, Nogueira-Neto foi atravessando, um a um, os obstáculos que a carreira ambiental lhe jogava na frente. Cansava, mostram seus registros. Mas seguia com a missão. "É preciso preparar o terreno para o dia em que a conservação da natureza não seja relegada ao último plano na organização administrativa do país", tomou nota, em 1972.

Quase 40 anos mais tarde, ele diz que valeu a pena. "Naquela época, os interessados em meio ambiente cabiam numa Kombi. Hoje já há uma consciência não só brasileira mas mundial", acredita. "Antes nós íamos à imprensa dar as notícias da área. Hoje, olha só, foi você quem me ligou para isso".
(Bernardo Câmara)
(O Eco, 25/1)



No site da WWF, este livro está disponível para download



Download

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Poesia regada a mel de ASF.

Amigos da AME-RIO e Internautas,

O nosso amigo mexicano, Prof. Adalberto, gostou  tanto de nossa série “Poesia regada a mel de ASF”, que resolveu  nos enviar uma canção, lá de sua terra.
Acredito que vocês vão gostar, tanto quanto eu, do poema enviado pelo Prof. Adalberto.

Um abraço,
José Halley Winckler

LAS   ABEJITAS 

Yo tenía unas abejas
Dentro de un barril;
Se me fueron las abejas
Y  quedó el barril.

Madrugué una mañana
Por el mes de  abril;
Me encontré con una abeja
dentro  del  jardín.

Yo le dije: - abeja de oro,
¿ qué hace usted aquí?
Y  ella dijo:- ¿abeja de oro?
Yo no soy abeja de oro,
Ni lo quiero ser,
Porque las abejas de oro
No fabrican miel.


Canción popular 
Autor anónimo.

Esta canção e muitas outras canções populares mexicanas podem ser encontradas no livro Canciones de Primer Grado, de  Ámim López Santos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O dia do ataque das iratimongas

Amigos da AME-RIO e Internautas,


Ontem, na lista do grupo Abena, um amigo nosso nos brindou com uma belíssima crônica. 
O Sigfrid expôs com absoluta realidade e de maneira tão compreensível os flagelos que as iratins causam. Só mesmo um professor de português e meliponicultor experiente poderia fazê-lo de forma tão clara e elegante.
Pensei em fazer a inclusão dessa matéria no BLOG da AME-RIO, para que fique eternizada esta bela aula-relato, principalmente por ser completa, inclusive as dicas finais.
Felizmente, essa postagem contou com a autorização do Sigfrid. No final ele apresenta uma ótima dica para não acontecer com  vocês, o que aconteceu no meliponário dele. E eu vou incluir algumas imagens, para que vocês conheçam essa praga.

Parabéns Sigfrid,

Pedro Paulo Peixoto

EX-Presidente da AME-RIO


O dia do ataque das iratimongas 

Era uma vez um pequeno reino meliponárico chamado Caixinhas de Ouro, formado de diferentes nações, como as guaraipevas, as mirinocas, as tubuneiras, as jataíscas, as tujubebas, entre outras, que habitavam o lugar pacificamente. 

Diz  a lenda que no ano de 2011, no dia 24 de enero, o povo da tribo mandaçaia  saiu de Mandaçaistan para patrulhar a terra. Eram homens valentes, guerreiros que, não tendo muito tino romântico, foram procurar diversão em outras pairagens. 

Chegaram a Tujubalândia, onde viram umas meio loiras, meio ruivas lindas de morrer. Então quiseram possuí-las à força. Mas as loirinhas ruivas eram valentes guerreiras também, e não permitiram a sua entrada. Primeiro elas tentaram só argumentar, mas isto não resolveu. Então, vendo que não haveria outro jeito, sacrificaram uma pobre donzela, colocando-a como obstáculo de entrada.

O dia estava nervoso. E esse nervosismo foi passado por toda a terra. Parecia um dia realmente tenebroso. Forças ocultas pareciam incitar a revolta. Os mandaçaianos, por possuírem o 6º sentido, iniciaram um alerta cósmico, e a revolta estava armada. Centenas de guerreiras circulavam o ar em seus voos rasantes e cheios de piruetas.

O sr. do reino, vendo o alvoroço, foi verificar o que havia. Com sua mão poderosa, tirou a aldeia de Tujubalândia de seu lugar. Insatisfeitos com este gesto, os guerreiros e as guerreiras mandaçaianos foram até a aldeia mais próxima, também habitada por loiras ruivas.
Parecia que queriam fazer a mesma coisa ali. 

Então o senhor do reino se deu conta de que um inimigo estava tentando levar à morte o seu bem precioso. A escuridão se aproximava! Ele então pegou um graveto e fechou a entrada da aldeia, e saiu por uns 2 minutos.

Quando retornou, a escuridão havia chegado em forma alada. Centenas de anjos caídos tentavam invadir e apossar-se de tudo o que havia naquela jovem aldeia. Eram as iratimongas.

Uma a uma, o senhor do reino acertou contas com as invasoras. Achou-as culpadas e condenou-as ao esmagamento.

Passada esta etapa, o senhor do reino pensou que as demais se arrependeriam e não atacariam de novo a um povo inocente. Mas......... não foi assim. As iratimongas reuniram outro exército e atacaram com mais ímpeto. Atacaram até o senhor do reino, tentando intimidá-lo. Novamente a sentença de cada uma delas foi a morte por esmagamento.

Não obstante a tudo isso, foi realizado o 3º, o 4º e o 5º ataque, todos tendo o mesmo fim.

Cai a noite devagarinho! Lá dentro, abrigadas do perigo, as loiras ruivas tujubebas respiram aliviadas. A aldeia vizinha é devolvida ao seu lugar.

Sorrateiro, um novo inimigo se aproxima. É sagaz, esperto e conhece o ponto frágil da aldeia atacada. Quer entrar a todo custo, mas não consegue, pois a entrada está fechada. Frustração para os mercenários. São foridenses, aproveitadores da desgraça alheia. Mas desta vez, não puderam entrar.

No dia seguinte, os machos valentões queriam novamente procurar alguma prostituta entre as loiras ruivas. Lutaram contra elas, e o senhor do reino teve de intervir de novo. Mas pelo menos desta vez as iratimongas não apareceram.

Sigfrid Fromming
Rio do Sul - SC


DICA: não esmague as iratins na cx que está sendo atacada. O cheiro é tão forte que fica lá e o forídeo sabe muito bem como tirar proveito disso. Se eu não tivesse fechado a cx, ela estaria completamente infestada de forídeos.
O ideal seria tirá-la do lugar, colocar outra e só então esmagar. Ou então capturar, aplicar extermix e soltar as iratimongas....

Uma operária Iratim (Lestrimelitta limão)
Uma Iratim em flor de Mutre
Ninho de Iratim

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As boas ladras

Vocês conhecem a castanha do Brasil?

A castanha-do-Brasil, também muito conhecida como castanha-do-pará, é a semente de uma árvore nativa da floresta Amazônica, a Castanheira (Bertholletia excelsa), que é considerada uma das mais importantes dessa região.

Na Castanheira tudo é grande, a árvore é de grande porte, pode atingir até 50 metros de altura e na floresta sempre sobressai em relação as outras arvores.
Castanheira (Bertholletia excelsa)
Foto: Hugo Kern, no site da Embrapa.

A castanheira produz frutos conhecidos como “ouriços”. Esses frutos possuem uma casca lenhosa bastante dura e podem pesar até 2 quilos.
Os "ouriços" e as sementes com a casca
Dentro tem entre 10 e 25 sementes.
Sementes sem casca.
As flores das castanheiras também são grandes
Foto: Rui Peruquetti

As flores tubulosas, grandes, dispostas em panículas terminais, possuem seis pétalas brancas ou esbranquiçadas e são cobertas por outra pétala, transformada em um capuz, que precisa ser levantado pelos seus polinizadores, durante a polinização. Estão dispostas em inflorescências, onde uma ou duas flores se abrem a cada dia.

A flor da castanheira é visitadas, por diversos tipos de abelhas. Mas nem todas conseguem polinizá-la, por não conseguirem erguer o capuz. 

Em recente estudo, duas famílias de abelhas foram registradas visitando a flor da castanheira, Apidae e Megachilidae, sendo esta última representada apenas por uma espécie, Megachile cf. orbiculata  enquanto a família Apidae foi representada por 25 espécies reunidas em sete tribos, dentre elas aquelas quatro consideradas  polinizadoras da castanheira, Bombini, Centridini, Euglossini e Xylocopini.

As abelhas sem ferrão (da tribo Meliponini) também foram registradas visitando essa flor, 12 espécies, sendo que a maioria tentava entrar na flor da castanheira forçando o capuz, mas sem sucesso, devido ao seu tamanho. Entretanto seis espécies de Meliponini mesmo assim permaneceram grande período de tempo nessas flores.

Devido à estrutura floral e ao tamanho das flores da castanheira, essas abelhas não foram consideradas polinizadoras, pois não conseguiram levantar o capuz. Entretanto, três delas coletaram grãos de pólen caídos sobre os limbos das pétalas, ou entraram em flores com as lígulas semi-abaixadas devido à pressão exercida na região abdominal dos polinizadores quando estes estavam dentro das flores, essas abelhas foram consideradas como oportunistas: Tetragona goettei (Friese), Tetragona kaieteurensis (Schwarz) e Frieseomelitta trichocerata Moure.

Já outras três espécies de abelhas sem ferrão descobriram que podiam conseguir os grãos de pólen pelo roubo do carregamento polínico das escopas e corbículas das abelhas polinizadoras e foram classificadas como ladras: Trigona branneri Cockerell, Trigona fuscipennis Friese e Trigona guianae Cockerell. As abelhas sem ferrão agrediam as abelhas polinizadoras com  mordidas nas asas, pernas e antenas para conseguir o seu alimento e com isso na maioria das vezes, depois do saque, os polinizadores optavam por dirigir-se a flores de outros ramos ou ainda de outras castanheiras, próximas.

A castanheira é uma espécie de planta com sistema reprodutivo auto-incompatível, sendo polinizada somente se seus polinizadores visitarem outros exemplares da planta. Desse modo, o artigo mostrou que é possível que as abelhas sem ferrão, afetando a atividade de forrageio dos polinizadores, possam estar contribuindo para a polinização cruzada da castanheira, ao impedi-los de visitarem muitas flores de um único indivíduo, forçando-os a visitarem outros indivíduos da mesma espécie.

Se a literatura e o cinema consagraram Robin Hood, agora nós também estamos descobrindo que temos abelhas que são "boas ladras", com seu roubo ajudam na preservação de uma espécie. E não é pela sobrevivência dos mais fortes.

Pena eu não ter conseguido fotos dessas abelhas. 

Uga,

José Halley Winckler



As imagens dessa página foram retiradas dos sites Correio Gourmand, Arboretto e  Agência de Informação Embrapa.

O artigo: Polinizadores de Bertholletia excelsa(Lecythidales: Lecythidaceae): interações com abelhas sem ferrão (Apidae: Meliponini) e nicho trófico, de Charles F. Santos e Maria L. Absy, foi publicado em: Neotrop. entomol. vol.39 no.6 Londrina Nov./Dec. 2010, pode ser obtido na íntegra em: http://www.scielo.br/pdf/ne/v39n6/v39n6a02.pdf


Caso alguém tenha imagens das abelhas aqui mencionadas, por favor informe através do formulário de comentários. Obrigado.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poesia regada a mel de ASF.

Continuando a série:



Um poema sobre as abelhas indígenas

"Quando chove as abelhas
Começam a trabalhar:
Moça-branca e a pimenta,
Mandaçaia e mangangá;
Canudo, Mané-de-Abreu,
Tubiba e irapuá."

"Ronca a tataira,
Faz boca o limão,
Zoa o sanharão,
Trabalha a jandaira,
Busca flor a cupira
Faz mel o enxú,
Zoa o capuchú,
Vai à fonte a jataí,
Campeia o enxuí,
Faz mel a uruçu"

Francisco Romano (1840-1891), cancioneiro nordestino
(Transcrito de Lamartine de Faria & Lamartine, 1964:187).

Esse poema foi retirado do livro Vida e Criação de Abelhas Indígenas sem Ferrão, do mestre Paulo Nogueira Neto. Como brinde para vocês, ofereço o download desse livro, indispensável na biblioteca de qualquer meliponicultor.
Tecle na imagem da capa ou no nome do livro, para iniciar o download.


Quer dizer, quem oferece esse brinde é o Laboratório de Abelhas da USP, eu só incluí o link.

Uga

José Halley Winckler

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Teste da Caixa de Vermiculita - Primeira Revisão


Amigos da AME-RIO

Vocês devem ter acompanhado minha postagem de sexta-feira última, quando mostrei o povoamento, para teste, de uma caixa racional para criação de mandaçaias, construída com cimento e vermiculita:
http://www.ame-rio.org/2010/01/teste-da-caixa-de-vermiculita.html

Uma visão melhor da caixa utilizada pode ser encontrada em:

O passo a passo para construção de uma caixa dessas, pode ser acompanhada em:

Neste domingo eu fiz a primeira inspeção na caixa de vemiculita para ver como estava o desenvolvimento do enxame 3 dias depois da divisão.

As abelhas já tinham construído vários potes ( inclusive no plástico que coloco na porta e infelizmente tive que eliminar ) e tinha muito movimento.

A nota preocupante é que encontrei vários forídeos e vou precisar ter muito cuidado e inspecionar as armadílhas constantemente.

Carlos Ivan/RJ


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Teste da Caixa de Vermiculita

Amigos da AME-RIO,

Depois de tanto tempo que construí as caixas de vermiculita, neste feriado de 20/01/2011 (Feriado de São Sebastião - Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro) eu resolvi colocar uma divisão de Mandaçaia na caixa de vermiculita (pintada de tinta acrílica por fora e verniz de batume de mandaçaia por dentro).
Eu vinha adiando por bastante tempo esse teste, porque eu não tinha enxames para dividir.
Acho importante fazer testes com esse tipo de caixa para podermos ver se é possível criar abelhas de forma racional nelas. Já temos caixas de vermiculita na sede da AME-RIO e com alguns sócios, em diferentes ambientes para comprovar, ou não, a viabilidade da criação.
Agora é esperar e acompanhar o desenvolvimento do enxame.

Carlos Ivan / RJ
Interior da caixa, pintada com verniz de geoprópolis.
Externamente a caixa foi pintada com tinta acrílica.
Discos para a divisão a formação da nova colônia.
Discos de cria posicionados,
Cobertos com placas de cera de apis misturada com cerume.
Isca para forídeos posicionada,
Isca junto aos alimentadores, também.
Caixa com um pouco de cerume na entrada.

Agora é só liberar as campeiras e deixar que entrem na caixa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Poesia regada a mel de ASF.

Amigos da AME-RIO,

Um grande amigo nosso, gostou tanto das postagens com as poesias do João de Paula, que resolveu escrever também uma poesia e mandar para nós.

Eu gostei, tenho certeza que vocês vão gostar também.

Vejam a poesia dele e depois descubram quem ele é:

Uga
José Halley Winckler

Meu pedaço de chão.


No meu Cariri,
Quando a chuva cai
E o homem vai
Ver a criação,
O seu coração
Fica em alegria,
Pois só assim, via
Verde no sertão

Mesmo na pobreza,
Ama a natureza,
Pois, essa beleza
Traz inspiração.
Faz uma canção
Pra mulher amada,
Até madrugada
À luz do lampião

Esse seu lugar
Sempre a lhe ajudar,
Pois ele terá
Que manejar bem.
Sabe igual ninguém
Encontrar saída
Continua a lida
Com aquilo que tem

Lá tem jandaíra,
Manduri e cupira,
E ele se inspira
Nessa criação.
Faz com devoção
Caixa e curtiço,
E esse rebuliço
Anima o sertão.

Se a chuva não vem,
O homem de bem
Sofre, pois não tem
Onde achar o pão.
Enche o coração,
Se ajoelha e reza,
Mas nunca despreza
Esse seu torrão.

Não sei poesia
Mas, Jesus me guia
E, mesmo assim, eu ia
Algo inventar,
Pra reafirmar
Toda essa paixão.
Pelo meu sertão
Sempre irei lutar

Amigo obrigado
Fico muito honrado
Pois o resultado
Não sei se prestou
Mesmo assim eu vou
Mandar pra você
Pelo menos lê
Fiz com muito amor


Amigo Winckler e todos da AME-Rio me desculpem se não gostarem da minha poesia, pois não uso nenhuma técnica em especial, vou escrevendo aquilo que sai da minha mente de homem do campo e amante da natureza...

Grande abraço à todos.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
João Pessoa - PB.


Caatinga durante o período de chuvas
Paulo Romero - férias no final do ano, lá no cariri...
Caixa de cupira (Partamona seridoensis), que o Paulo mantêm em João Pessoa
Cupinzeiro semi-destruído, com um ninho de cupira.
Cupinzeiro aberto, deixando a mostra o ninho e os potes de mel da cupira.
Cupira na caixa racional.
Francisco Romero com mestre Chagas.

Vocês podem saber mais sobre o Paulo Romero, visitando o Blog do Meliponário Braz, de sua propriedade.


Para  conhecer o livro Criação de Abelhas Uruçu do mestre Chagas e sua esposa Selma, clique no nome do livro

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Uma espécie de abelha sem ferrão, com futuro.

Amigos da AME-RIO,


Há algum tempo, eu convidei o Prof. Adalberto Aguilar y Coronado para ser um dos colaboradores de nosso blog. Vocês devem se lembrar dele, é o autor da matéria sobre a Divisão de colônias de Melipona beechei e também forneceu material para a postagem que fiz sobre os Meliponários maias.
Bem, o Prof. Adalberto resolveu aceitar o meu convite, mas me afirmou estar sem tempo de aprender a formatar as postagens no Blogger. E também expressou seu desejo que suas matérias fossem traduzidas para o português. Quer dizer, sobrou para o marmitão aqui.
Mas tudo bem, traduzir as matérias do Prof. Adalberto, mais do que um trabalho, é um prazer. E é uma forma de aprender um pouco mais sobre meliponicultura.
Hoje ele nos brindou com uma matéria sobre uma outra abelha mexicana, não tão conhecida quanto a Melipona beecheii ou quanto a Scaptotrigona mexicana. Os habitantes da região de onde essa abelha é natural, a chamam de "Ts'ets".
Para nós, sul americanos, provavelmente é uma abelha totalmente desconhecida, na verdade o Prof. Adalberto diz que ela é desconhecida até para os pesquisadores mexicanos. Essa abelha é originária das matas localizadas na parte alta das montanhas ao sul de Yucatán, que vem sendo derrubadas para a implantação de lavouras ou da criação de gado. Então está se tornando difícil encontrá-las na natureza e os pesquisadores tem poucas oportunidades para estudá-las.
Ele diz até que os pesquisadores já solicitaram algumas colônias suas, para pesquisa, mas que ele não pode fornecer por ainda não as ter em quantidade suficiente para isso, principalmente porque, quase sempre, as abelhas que são encaminhadas para pesquisas acabam perecendo.
Bem mas eu já me estendi demais, vamos à matéria do Prof. Adalberto. Vamos conhecer a “Ts’ets”.
Antes, vamos conhecer nosso correspondente yucateco e parte do meliponário "NOJ YUUM KAAB".
Prof. Adalberto e sua esposa.
Mestre Cappas e a Dra. Margarita Medina Camacho, 
especializada em Scaptotrigona mexicana,
em visita ao Prof. Adalberto. 
Uga,
José Halley Winckler

Melipona yucatanica. Uma espécie de abelha sem ferrão, com futuro.
Adalberto Aguilar y Coronado.
Meliponário "Noj Yumm Kaab", Valladolid, Yucatán - México


Nas áreas de selva remanescente localizadas na região de fronteira dos estados de Yucatán, Campeche e Quintana Roo, no México, ocorre a abelha Melipona yucatanica, conhecida pelos habitantes dessas regiões como "Ts'ets". No entanto, pouco se sabe sobre sua biologia e seus hábitos de nidificação, pois não é explorada domèsticamente como a abelhas Melipona beecheii (Ko'olel cab - Xunaan Kaab). Em dezembro de 2001, o Dr. Jorge A. González Acereto me presenteou com uma colônia desta espécie, produto de uma divisão efetuada, que foi alojada por ele em uma colméia racional e que integrei ao o meliponário "Noj Yuum Kaab" de minha propriedade, onde trabalho com as abelhas sem ferrão Melipona beecheii (Ko'olel cab) Scaptrotrigona pectoralis (Kantsak), Trigona nigra (Sak Xic) e Nannotrigona perilampoides (Yaax ich), para observar a sua adaptação ao clima e à flora desta região de Valladolid, uma cidade situada cerca de 180 quilômetros de seu local de origem .


Esta abelha é caracterizada por ser menor do que o Melipona beecheii (Ko'olel cab), possuir uma entrada bastante reduzida que só permite a presença de uma guardiã, ao contrário da Melipona beecheii, em cuja entrada cabem até três abelhas guardiãs, o que ajuda no controle de pragas e na proteção aos ataques de outras espécies de abelhas. Seus discos de cria são horizontais e o invólucro é muito fino, essa abelha coleta uma grande quantidade de barro para as suas estruturas. Seus ninhos ficam sempre cobertos pelo invólucro os envolvem, diferente da Melipona beecheii que em época muito quente não se observa a presença do invólucro. A população de cada colônia é pequena, é estimada em cerca de 300-350 abelhas, muito trabalhadora e um tanto belicosa, quando se abre o ninho para revisões. Ela defende o seu ninho mordendo as pálpebras do e se enredando nos cabelo das pessoas, emitindo um zumbido característico. São miméticas a Melipona beecheii, mas muito bonitas e trabalhadoras. É de se admirar a quantidade de mel que armazenam na temporada.


Quando as colônias são fortes, é necessário, por comodidade, usar um véu de tule ao trabalhar com elas, pois elas são muito "revoltosas", girando em torno da gente e emitindo um zumbido muito peculiar.


Durante o espaço de um ano eu observei sua adaptação, tanto à colméia racional onde eu estava alojada, como ao nosso meio ambiente, a sua convivência com outras espécies de abelhas existentes no meliponário, o desenvolvimento do ninho, a coleta de néctar e pólen, conheci as suas rainhas virgens e fisiogástricas, etc, tudo de forma satisfatória. Antes disso efetuei uma divisão com êxito. Um ano depois, das duas colônias obtive outras duas, totalizando quatro e no ano seguinte, das quatro, obtive mais três. De uma colônia de Melipona yucatanica obtive outras seis no lapso de três anos. No ano de 2006, eu não efetuei nenhuma divisão porque devido aos efeitos de dois furacões que atingiram o estado em 2005, as colônias se estressaram e preferi não tocá-las. Em 2007 me dediquei inteiramente à criação e a reprodução de Melipona beecheii não tendo feito qualquer divisão do M. yucatanica. Cabe mencionar que nesse tempo eu perdi uma colônia desta espécie, estando atualmente com seis colônias.


Felizmente, na cidade de Valladolid e arredores ainda há muitas árvores da flora nativa e nos solares vizinhos, os seus proprietários ainda mantém o costume de plantar árvores frutíferas nativas da região ou introduzidas.
Isso, creio eu, tem influenciado na adaptação dessa espécie de abelhas sem ferrão, não devemos esquecer que elas vem da selva ou da "alta montanha", como dizemos por aqui.


Durante estes anos, se adaptou bem ao clima de Valladolid, pois na primavera e no verão visita as florações desta região de Yucatán, para coletar e transporta o néctar e pólen para suas colméias sem qualquer problema.


A qualidade do seu mel e sua atividade polinizadora tornam interessante trabalhar com elas pois podem representar algo que nos ofereça um bom retorno financeiro no futuro, apesar da dificuldade de obter os seus ninhos, restritos as matas do sul de Yucatán. Além disso, com sua reprodução estaremos ajudando essa abelha tão útil para a vida na Terra, pois não devemos esquecer que as abelhas sem ferrão estão seriamente ameaçadas em sua existência, pelo desmatamento excessivo e irracional que sofre nosso estado e país.


Atualmente, a sociedade começa a demandar produtos alimentícios naturais e o mel e o pólen dessas abelhas são produtos que podem nos oferecer um bom resultado.

Imagens de Melipona yucatanica. 
Meliponário “Noj Yuum Kaab” Valladolid, Yucatán.
Abelha guardiã, na entrada característica do ninho.
Rainha fisiogástrica  jovem

Rainha velha de M. yucatanica
Abelhas operárias, com sua carga de pólem.
Os discos de cria da M. yucatanica são cobertos por um invólucro bastante fino.
Ninhos com potes de mel em uma colméia racional.
Rainha virgem de M. yucatanica
Excelente adaptação em colméia racional
Abelhas operárias de M yucatanica sobre um disco de cria 
Divisão de M. yucatanica em pleno desenvolvimento.