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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Novo melhor amigo do Homem, provedor e protetor.

Na verdade não é "melhor amigo do homem"... é "melhor amiga" ! E está claro que todos já sabem que vamos falar de abelhas. Essa matéria, que foi publicada no Daily Telegraph, apresenta uma série de utilidades para as abelhas, diferentes daquelas consideradas normais, produzir mel, própolis, cera e oferecer serviços de polinização. Além do aqui listado, as abelhas podem ser usadas para muitas outras coisas e tão importantes ou mais do que suas utilidades tradicionais. Pena que a maior parte dos estudos trate apenas de abelhas da espécie Apis melifera, esquecendo totalmente as outras 20.000 espécies. Precisamos estudar melhor essas outras espécies, principalmente aquelas cerca de 400 espécies de abelhas sem ferrão.
Vamos torcer para que um dia nossas abelhas também sejam alvo de estudos mais profundos, com certeza vão descobrir que elas podem nos oferecer ainda muito mais.
uga,
José Halley Winckler


Man's new best friend, provider and protector




Honey bees

Honey bees

Photograph by: Bill Keay, Vancouver Sun


Nesses últimos anos, os noticiários tem nos apresentado uma saraivada de desgraças sobre o destino das abelhas. Graças em grande parte a um fenômeno misterioso conhecido como Distúrbio do Colapso das Colônias (CCD), o número de colméias tem diminuido, com implicações catastróficas para a espécie, e para o nosso sistema agrícola. Colméias da Inglaterra foram desaparecendo mais rapidamente do que em qualquer outro lugar da Europa, sendo que mais da metade das colméias desapareceram nesses últimos 20 anos.

Assim, o anúncio feito na semana passada que a produção de mel voltou a crescer no Reino Unido, bem como apicultores amadores estarem se reunindo para resgatar as abelhas, multiplicando as suas próprias colméias, é especialmente animador. As abelhas não são  apenas uma parte essencial do sistema de polinização: são uma maravilha da natureza, sem deixar de mencionar que são uma das criaturas mais sofisticadas do planeta.

As abelhas existem a cerca de 110 milhões de anos, mas foi a apenas um par de milhares de anos atrás que começamos a perceber seu potencial para ajudar a humanidade. Os antigos maias foram os primeiros, aproveitando as abelhas sem ferrão da America Central para a agricultura. Seus Xamãs reverenciavam essas criaturas, acreditando que cada uma tinha uma alma.

Estudos posteriores confirmaram esse respeito intuitivo por sua inteligência. O Prêmio Nobel de Karl von Frisch (1886-1982) dedicou sua vida a decifrar como as abelhas se comunicavam, descobrindo que, dançando, verticalmente, no escuro, elas sinalizam a localização exata de néctar, pólen, água e resina de árvores, ou outras informações importantes.

Ele também descobriu que as abelhas podem contar até cinco e treinou-as, para visitar pontos de alimentação em períodos específicos do dia. Além disso as abelhas tem uma memória de tempo e espaço e usam marcos, tais como árvores, rochas ou construções, como apoio para orientar-se. Este sistema – e a habilidade para contar - é empregado no momento de decidir onde construir uma nova colmeia. Abelhas escoteiras buscam várias opções, então, fazem uma votação: 15 é o número crucial para o quorum.

As abelhas também dependem fortemente do olfato para realizar suas atividades diárias. Na cabeça de uma abelha operária existem duas antenas com 3.000 órgãos sensoriais. Sua capacidade de distinguir mais de 170 odores na natureza é vital para farejar néctar, pólen, água, resinas de árvores e feromônios.

Acontece que as pessoas e as abelhas compartilham uma série de semelhanças. As duas gostam de dançar e viajar; protegem a rainha; e apreciam açúcar, cafeína e nicotina. E, é claro, as duas gostam de flores. Hoje, cerca de 20.000 espécies de abelhas são reconhecidas como polinizadoras, contribuindo para a saúde e o bem-estar da maioria das 235 mil espécies de plantas com flores do planeta, ainda que uma única espécie de abelha, a Apis mellifera, venha sendo utilizada na polinização de alimentos, algodão, alfafa e trevo para as indústrias de carne e leite desde 150 anos atrás, ela ajudou a gerar mais de 200 bilhões de quilos de sementes, frutas e outros produtos vegetais por ano no mundo.

No entanto, a importância da abelha vai muito além da agricultura. Por exemplo, há um negócio lucrativo e em expansão, a api-terapia. Este campo da ciência farmacêutica utiliza as propriedades anti-inflamatórias da melitina e adolapina do veneno de abelhas, juntamente com apamina, para melhorar as conexões nervosas, trazendo alívio aos que sofrem de esclerose múltipla, artrite reumatóide, fibromialgia, tendinites e outras doenças debilitantes auto-imunes.

Durante os últmos 15 anos, os cientistas vem treinando abelhas para nos ajudar de outras maneiras. O trabalho sobre os reflexos condicionados por outro laureado com o Nobel, Ivan Pavlov, nos ensinou que as abelhas podem responder a mais de 60 odores, variando da metanfetamina ao TNT, do urânio enriquecido a tuberculose. Para identificar um cheiro, os produtos químicos são misturados em um líquido açucarado com o qual as abelhas são recompensadas, junto com uma dose de cafeína. O processo é repetido até cinco vezes, altura em que as abelhas conseguem associar o cheiro com a comida. Depois disso, quando uma abelha encontra uma fragrância desejável, seus reflexos levam-na a estender a sua tromba ou língua para receber o néctar - um reflexo de que os cientistas são facilmente capazes de medir.

Inevitavelmente, isto chamou a atenção da indústria de segurança. Logo, as abelhas poderão ser implantadas em zonas de guerra, aeroportos, estações, portos, estádios desportivos, empresas de alimentação e consultórios médicos. A economia, certamente faz sentido: enquanto cães farejadores tem uma precisão de  cerca de 71 por cento das vezes e exigem pelo menos três meses de treinamento, as abelhas são precisas 98 por cento das vezes e requerem menos de 10 minutos de treinamento. Além disso, elas podem detectar explosivos ou droga na presença de agentes potencialmente interferentes, tais como loções, óleo do motor ou repelente de insetos. E depois de alguns dias, cumprindo o seu dever olfativo, elas podem ser devolvidas, ilesas, para a colméia.

Tais aplicações seriam particularmente útil na luta contra o terrorismo - incluindo aqueles tipos de explosivos plásticos criados nos últimos anos. A policia de Bagdá usa 48 cães farejadores, pastores alemães e belgas ou labradores, custando 4.000 libras cada um. Abelhas farejadoras poderiam ser utilizadas por uma fração desse custo.

As abelhas também podem oferecer soluções mais tecnológicas. Recentemente, os aeroportos londrinos de Gatwick e Heathrow instalaram scanners de corpo inteiro, a um custo de 100 mil libras por dispositivo. No entanto, se Farouk Abdul Abdulmutallab, o jovem nigeriano muçulmano que levava explosivos escondidos em sua cueca, na tentativa de explodir um avião de passageiros, tivesse o corpo inteiro digitalizados, a chance de detectar os explosivos teria sido de apenas 50-60 por cento.

Com mais de 85.000 voos comerciais em todo o globo a cada dia, essas chances são inaceitáveis. Uma empresa britânica, Inscentinel Ltd, está desenvolvendo um engenhoso dispositivo que usa abelhas para farejar drogas, bombas caseiras de fertilizantes, explosivos plásticos e cerca de 60 outras substâncias perigosas. Três abelhas são colocadas dentro de uma "caixa farejadora" do tamanho de uma caixa de sapatos. O ar é sugado por meio de tubos e soprado suavemente sobre as abelhas. Se elas detectarem explosivos ou droga todas elas estendem as suas línguas e é enviado um alarme para o operador.

Há também uso humanitário para as abelhas farejadoras. A Cruz Vermelha estima que existam entre 80 milhões e 120 milhões de minas terrestres enterradas em 70 países, que mutilam 22.000 pessoas (principalmente crianças) a cada ano. Um sistema concebido pelos pesquisadores da Universidade de Montana,  preve a inserção de minúsculos microchips em abelhas. Quando as abelhas voarem pela área minada, a carga eletrostática do seu corpo atrai o resíduo de TNT, o componente explosivo das minas terrestres. Depois, quando elas voltam para a colméia, este pode ser detectado, e uma varredura do chip vai revelar a localização exata dos artefatos.

Essas técnicas também podem ser aplicadas ao sistema de saúde. As abelhas já estão sendo usadas como detectores precoce de câncer de pulmão e de pele, diabetes e tuberculose, bem como para monitorar ciclos de fertilidade e confirmar a gravidez. Pacientes respiram através de uma ferramenta de diagnóstico de vidro, quando as abelhas treinadas detectarem alguma doença ou hormônio, elas avançam para os tubos que contem à sua respiração.

Dadas essas vantagens, é trágico que centenas de bilhões de abelhas estejam morrendo em todo o mundo devido ao CCD, o que, conforme muitos cientistas, é devido a um grupo de pesticidas chamado neonicotinoides. A humilde abelha deve ser salva a todo custo - que outra criatura pode frustrar terroristas e narcotraficantes, nos salvar de doenças horríveis e ainda contribuir para um desjejum delicioso e nutritivo?

Dr. Reese Halter é um biólogo conservacionista da Universidade Luterana da Califórnia e autor do livro "The Incomparable Honey Bee and the Economics of Pollination (Rocky Mountain Books)”

O Daily Telegraph

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