Relato da criação das abelhas sem ferrão no Rio Grande do Norte e no
Mundo, bem como a sua atual realidade.
A pedido do meu grande amigo e meliponicultor Paulo Menezes, um dos maiores e mais respeitados ícones na criação da abelha Jandaíra no Rio Grande do Norte, recebi a missão de produzir algum texto que servisse aos nossos legisladores de subsídio histórico a respeito da atividade da meliponicultura na nossa região.
Confesso que produzir um texto dessa complexidade não é fácil, principalmente quando tenho que entregá-lo em menos de 24 horas para ser enviado, segundo o amigo, a Brasília, capital da República, para servir de argumentação histórica num projeto de lei que visa regulamentar, de forma clara e definitiva, a atividade de meliponicultor.
Pois bem, não sou nenhum historiador, mas devido a minha curiosidade, melhor dizendo, devido a minha paixão por essas abelhas, acabei descobrindo ao longo do tempo alguma coisa a respeito da história da criação das mesmas pelo homem, mesmo ainda antes da descoberta do colonizador europeu no continente americano.
Para iniciar essa jornada épica temos que, logicamente, voltar ao longo do tempo, mais precisamente ao ano de 1800AC. Nessa época, na região que hoje é o México vivia um povo chamado de Olmecas.
Segundo Cappas (2010) os Olmecas eram um povo conhecido como os Homens-Jaguares. Os apontamentos do renomado pesquisador indicam que esse povo foi a primeira civilização no mundo a criar as abelhas sem ferrão.
Inicialmente eram predadores das colméias, mas com o decorrer do tempo passaram a explorar o mel de forma esporádica sem destruir as colônias, mantendo-as no seu hábitat natural (árvore), retirando-lhe o mel nas épocas de floração.
Assim narra Cappas a respeito da exploração dos Olmecas:
Nasceu assim a “Meliponicultura da janela escondida”, usada até hoje pelos Maias Yucatecos, pelos índios do Xingu, ... A colônia permanece na árvore onde é feita uma janela para se extrair o mel. A janela selada é camuflada pelo dono do enxame para assim se evitar roubos (internet).
O povo Olmeca deu origem a uma das maiores e mais desenvolvidas civilizações das Américas: os Maias. O povo Maia não só cultivava as abelhas sem ferrão, mas tinha com esses insetos uma ligação cultural imensa, diversas passagens dos rituais do povo Maia tinham traços de referência às abelhas sem ferrão. Uma das principais cidades Maias era Mayapán, também chamada de cidade colméia, uma referência direta à criação das abelhas sem ferrão.
Em outro exemplo, o Mestre Cappas assim comenta a respeito da urna de um grande sacerdote Maia também chamado de “O Grande Dia Abelha”:
...A sua urna em forma de Chaac, com asas e antenas de abelhas, foi encontrada enterrada no pátio da grande Pirâmide Mayapán (Castillo de Mayapán). Este sacerdote foi um dos autores do Código de Madrid...
Na América do Sul, há centenas de anos, os índios venezuelanos criavam as suas colônias de abelhas sem ferrão em cabaças, essa prática rudimentar ainda hoje é copiada pelos rincões do território brasileiro.
No Peru, o povo Inca também tinha forte ligação com as abelhas sem ferrão, sua cultura era influenciada pela criação dessas abelhas. Podemos destacar que, recentemente, numa escavação na região do povo Nasca (tribo que deu origem aos Guaranis) em Cahuachi, foram encontrados tecidos mortuários com a representação da Grande Abelha vermelha dos Maias. Isso só reforça a indicação que as abelhas sem ferrão eram muito importantes na vida daquele povo.
No Brasil, as tribos indígenas também criavam e, ainda criam as abelhas sem ferrão, os índios Tapajónicos, extintos da região de Santarém-PA, localizada na foz do Rio Tapajós, no baixo Amazonas adoravam a “Grande Abelha Vermelha”.
Por aqui, os Guaranis tinham grande conhecimento do mundo da meliponicultura. O mel das abelhas sem ferrão não só fazia parte da alimentação dos índios bem como do mundo mágico. A Tembetá dos pajés, instrumento utilizado durante os rituais de magia, era feita de batume (resina e barro coletados diretamente das colônias) produzido pelas abelhas sem ferrão.
Enfim, não é de hoje que as abelhas sem ferrão estão ligadas e possuem papel preponderante na vida e na cultura do homem sulamericano. As abelhas sem ferrão, ou também conhecidas como abelhas indígenas pelo histórico acima narrado, fazem parte da própria história do homem no continente americano.
No Brasil, em especial no nordeste, devido à tradição dos índios, os primeiros colonizadores já exploravam as abelhas sem ferrão. Segundo Cascudo (1983), em sua obra sobre a história alimentar brasileira, a cachaça misturada ao mel da abelha sem ferrão era bebida tradicional no Sertão Brasileiro.
Certamente, não era diferente em boa parte do território nacional. As abelhas sem ferrão sempre estiveram presentes na vida do homem nessa terra, desde os seus primórdios, conforme assim nos mostra a história.
Estima-se que só no Brasil existam mais de 250 espécies de abelhas sem ferrão, dentre essas, mais de 40 espécies já são largamente criadas, de forma artesanal ou racional, nos rincões do nosso território a fora.
Entre essas podemos destacar a Uruçu verdadeira (melipona scutellaris), a Jandaíra (melipona subnitida), a Tiúba (melipona compressipes), a Mandaçaia (melipona quadrifaciata) e muitas outras mais.
Do ponto de vista histórico, até a introdução do colonizador português no Brasil as únicas abelhas existentes por aqui eram as abelhas sem ferrão, somente três séculos após o seu “descobrimento” foi que o homem branco, mais especificamente o Padre Antônio Carneiro, introduziu no Brasil em 1840 as abelhas de ferrão da espécie apis mellifera oriundas da Espanha e Portugal. Desse dia em diante as abelhas sem ferrão não estavam mais sozinhas e passariam a concorrer por casa e alimento com as abelhas da espécie apis.
Em 1845, imigrantes alemães introduziram no Sul do País a abelha Apis mellifera mellifera. Entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apis mellifera ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia. Em 1956, o professor Warwick Estevan Kerr trouxe da África, com apoio do Ministério da Agricultura, com a incumbência de selecionar rainhas de colônias africanas produtivas e resistentes a doenças.
A intenção era realizar pesquisas comparando a produtividade, rusticidade e agressividade entre as abelhas européias, africanas e seus híbridos e, após os resultados conclusivos, recomendar a abelha mais apropriada as nossas condições. Dessa forma, em 1957, 49 rainhas foram levadas ao apiário experimental de Rio Claro para serem testadas e comparadas com as abelhas italianas e pretas. Entretanto, nada se concluiu desse experimento, pois, em virtude de um acidente, 26 das colônias africanas enxamearam 45 dias após a introdução.
No decorrer do tempo os zangões das abelhas africanas cruzaram com as rainhas das abelhas italianas, gerando um híbrido extremante agressivo e produtivo, passando a ser chamado pela comunidade científica de abelhas Africanizadas.
No Estado do Rio Grande do Norte a principal abelha sem ferrão criada pelos meliponicultores é a abelha Jandaíra (melípona subnitida), também conhecida por nós como a “rainha do sertão”, devido a sua excelente evolução e adaptação à região da caatinga.
Em Mossoró-RN, a cultura da criação dessa abelha vem sendo passada de geração em geração, desde a época dos índios potiguaras que, assim como os maias, criavam as Jandaíras em cabaças ou mesmo em caixa improvisadas.
O próprio nome Jandaíra é de origem indígena e significa “abelha de mel”, os primeiros relatos escritos a respeito da criação dessa abelha na região são do Padre Humberto Brumeng, que foi um dos pioneiros na criação racional da Jandaíra na região, ainda em meados do século XX.
O seu livro intitulado “Abelha Jandaíra” ainda hoje é uma das únicas referências a respeito do manejo e criação racional dessas abelhas no Rio Grande do Norte. Escrito em forma de diário, o livro narra a história da saga da Jandaíra no último século, bem como um pouco da história da chegada da apis na região.
Atualmente, a abelha Jandaíra ainda é criada nas zonas rurais nos principais municípios da região, todavia a cultura de sua criação vem com o tempo desaparecendo, principalmente pelo fato da maioria dos criadores serem pessoas com idade avançada não tendo substitutos diretos.
Porém, o principal fator do desaparecimento dessas abelhas é a destruição da caatinga. A realidade é triste, mas deve ser dita. Mesmo sendo o único bioma exclusivamente brasileiro, a cada dia a caatinga vem sendo destruída sem dó nem piedade, já não vemos mais os grandes pés de Juazeiro, de Cumaru, Aroeira, Imburana, Angicos, Catingueira, Baraúna etc. Essas belas árvores estão sendo destruídas e consumidas, diariamente, pelo homem que não percebe que destruindo o seu hábitat está destruindo a si mesmo.
A desertificação da região do semi-árido Nordestino caminha a passos largos, segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o Nordeste pode perder um terço de sua economia por causa da desertificação e do aumento da temperatura em menos de 20 anos.
Juntamente com as árvores se vão as abelhas sem ferrão. Sem casa para morar são obrigadas a ocupar as únicas e pequenas árvores restantes, na sua grande maioria árvores de pioneiras, que possuem pequenos ocos e não são ideais para a manutenção dessas abelhas na natureza.
Para uma melhor compreensão do fato, transcreverei um trecho do livro do Padre Humberto, em seu bonito relato a respeito da importância da preservação da Jandaíra no Rio Grande do Norte. Já dizia respeitado Monsenhor:
"Nosso Salvador nasceu no campo, de uma camponesa, nasceu num curral entre os animais, trabalhou mais no campo que na cidade. Vivia em harmonia e sintonia com a Natureza. Convidou os homens a olhar as flores, os pássaros, as borboletas, as abelhas, os pintinhos, os ninhos. Quem está em contato com a flora e a fauna está em contato com o Criador. O mundo visível é reflexo ao invisível, as criaturas apontam para o Criador.
Todos os animais respeitam o ambiente em que vivem, menos o homem. O peixe mantém límpida a água em que passeia, o pássaro conserva puro e diáfano o ar que cruza, a minhoca revira o solo mas não o degrada, ao contrário, torna-o mais fértil; a fera mora na selva, percorre-se atrás do sustento semcontaminá-la nem destruí-la; o colibri sorve o alimento do nectário das flores, roça com as asas suas pétalas delicadas sem deixar sinal de sua visita; a jandaíra visita milhões de flores para coletar um quilograma de mel, passeia pelos estigmas, estames e anteras para colher pelotas de pólen, sem vestígiode sua presença , pelo contrário: enriquece-as através da polinização. Quanta lição de inseto para o reida-criação, o mais violento dos bichos, o mais barulhento.
Observemos o estardalhaço dos carros-de-zoada e o estrondo das motocicletas, fragor de batalha, sem nada produzir, a não ser ruído! Belíssimo exemplo de laboriosidade, de previdência e providência, de frugalidade e economia fornece a jandaíra ao homem consumista e tecnocrata. Ela recolhe sempre que pode e o que pode – e guarda, ensila, economiza, sem nada esbanjar. Guarda até quotas supérfluas. Jandaíra não alimenta vício – como faz o homem. Não fuma, não masca, não se embriaga, não sorve droga, não cheira cola, não se empazina. Reparte a vida entre trabalho e repouso.
Não gasta com turismo, nem forrobodós, não mantém campos de esporte, nem hospícios, nem hospitais, nem cemitérios. Economista nenhum a supera em pré e providência nem economia. Para ela não há crise habitacional, a não ser pela intromissão do homem. Não gasta com escola, estradas, pontes, energia, água – que nem bebe. Desconhece explosão demográfica pela simples razão de manter o mais rigoroso controle de natalidade que consiste no seguinte princípio inflexível: o número de filhos é rigorosamente proporcional ao número de pratos de comida, nem um a mais! Usa a maternidade responsável – a mais responsável – porquanto usa o sexo uma única vez em toda a existência, e mesmo em fração de segundos. Que contraste com o homem, esse sexólatra maníaco, semelhante “ao cavalo e ao jumento que não compreende nem rédea, nem freio: deve ser amansado.” Salmo 31,9.
A jandaíra trabalha em sintonia com o sol, mesmo encoberto, e sem fiscal, e sem xô nem aboio: tudo bem acabado e caprichado. A criação é uma sinfonia em homenagem ao seu Criador: Deus! E muito afinada. A única nota discordante, o único instrumento desafinado é o homem quando transgride a Lei de Seu Senhor.
Só o homem pode louvar a Deus conscientemente. Pouco se preocupa com isso. O tema Natureza pertence ao passado. A geração contemporânea, hodierna, explora seu próprio tema, único, invariável, monótona até provocar náuseas: o corpo, concentrado no sexo. Milhões de discos, americanos ou brasileiros, com o mesmo enredo e assunto. Que pobreza e que baixeza.
Nunca levantam os olhos para a Natureza que os envolve, mas não enleva nem enleias. A tais São Paulo chama de homens-animais, ou animalescos. Pode ser que com a reação dos ecologistas mudem de rumo. Já é tempo de humanizar o animal e cristianizar o homem. A Flora e a Fauna também merecem um disco. Riqueza e beleza não lhes escasseiam. Mãos à obra. Às lições até aqui anotadas, acrescentemos ainda prodigalidade e solidariedade quanto ao sustento da família.
Cada jandaíra vai ao campo, com risco de vida, colhe o que pode, enche o papo, carrega os pés e chega em casa, põe tudo em comum, como os Atos dos Apóstolos afirmam a respeito dos primeiros cristãos: “...punham tudo em comum.” At. 4,33 ss.
O que consome bens e saúde é o vício; ora, jandaíra não tem vício, não mantém arsenais de guerra nem prostíbulos, nem cassinos, nem máfia; vive do trabalho – e dá a vida pelo bem comum e pela família. Na defesa dela enfrenta qualquer inimigo, sem medir nem temer seu tamanho. Ela faz do particular o geral, bem ao contrário dos governos, que fazem do geral o pessoal. O indivíduo produz mais do que consome, por isso não morrem de fome. Por ocasião de calamidades ninguém furta e todos ajudam a reconstruir. Jamais a mãe abandona a família ou o lar, em caso nenhum. Aprendam as mães, aprendam também os pais – não das jandaíras – dos homens. São muito mais mães que geratrizes.
Em viagem, trancafiadas, as jandaíras mal e mal ingerem alimento: quedam-se o tempo todo.
Reparem o homem em viagem de avião. Quase esgota a aeromoça à procura de comida, café, refresco, cigarro, etc. Insaciável. Jandaíra só come em casa, só dorme em casa. O homem come em qualquer lugar, até na aula, na igreja. Horrível. Matricule-se na escola da professora jandaíra, tão doce! (BRUENING, Huberto: Abelha Jandaíra, coleção mossoroense, pag. 131 - 135.)"
Até 2004, abelhas sem ferrão eram praticamente esquecidas pelos órgãos governamentais, somente a partir da Instrução Normativa 346/2004 do CONAMA/IBAMA foi que alguma coisa, ainda de maneira superficial foi criada para tentar proteger e regulamentar a atividade.
Segundo as regras da IN 346 o IBAMA teria um prazo de seis meses a partir daquela data para regulamentar de forma detalhada a atividade. Como no Brasil as coisas demoram para acontecer, somente em 2008 através de outra Instrução Normativa foi que o IBAMA na IN 168/2008 regulamentou a atividade.
Na verdade, o que era pra ser um fato festejado se tornou um dos maiores tormentos para aqueles que lutam pela preservação da cultura da abelha sem ferrão. Ao invés de ajudar, a referida IN acabou por dificultar ainda mais a tão esquecida atividade.
O problema é que o IBAMA acabou regulamentando todo tipo de criação de animais nativos em um grande balaio, passando a criar uma série de exigências que praticamente inviabilizam a criação comercial desse tipo de abelha, limitando ainda a criação ao número irrisório de 50 colônias por meliponicultor. Caso alguém se atreva a tentar legalizar algum criatório que tenha mais que isso precisa atender uma série de exigências absurdas e desarrazoadas. Como exemplo, chega-se a inimaginável exigência de formulação de um “plano de fuga”, para conter as abelhas que possam fugir do criatório.
Seria cômico se não fosse trágico, ao fazer essa exigência a autoridade federal só mostra o quanto desconhece a biologia das abelhas indígenas pois se compreendesse saberia que nunca uma colônia de abelhas nativas irá fugir, pois como nós sabemos as rainhas ativas de meliponíneos são fisogástricas, ou seja, possuem o seu abdômem bem dilatado o que as impossibilitam de voar. E as abelhas nativas, diferentemente do bicho homem, que muitas vezes abandonam a sua mãe, nunca deixam a rainha, mesmo nos períodos de fome. Morrem ao seu lado, custe o que custar.
O mais interessante disso é que o mesmo tratamento não é dado às apis melifera. Qualquer pessoa, mesmo sem nenhum habilidade técnica e sem nenhuma restrição ambiental, pode manter centenas ou até mesmo milhares de colméias dessas abelhas que não será nem sequer questionado sobre o impacto ambiental que a sua criação poderá trazer às pobres abelhas nativas.
Hoje, tanto a meliponicultura artesanal como a comercial praticamente se encontram na clandestinidade. A coisa é tão feia que não se pode nem ao menos criar as espécies nativas fora de sua região de endemia. Dessa maneira, eu por exemplo, posso apenas criar Jandaíra, pois são nativas da caatinga. Se eu quiser criar Uruçus ou Mandaçaias estarei cometendo uma infração ambiental já que a criação de espécies diferentes também não é permitida fora de sua região natural.
O interessante é que o apicultor pode criar quantas espécies de apis ele quiser, pois não há restrição nenhuma para a sua diversidade, pelo contrário, a literatura científica apícola estimula a diversidade como forma de aumentar a variabilidade genética.
Nem ao menos o mel dessas abelhas, produto da mais alta qualidade alimentar, pode ser considerado como mel. Segundo as autoridades sanitárias brasileiras, mel é, única e exclusivamente, de acordo com o conceito técnico do sistema de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal do Brasil (art. 737 da RISPOA), o produto produzido pelas abelhas da espécie apis melifera.
Esse absurdo se deve ao fato de que o mel dos meliponíneos não possui as mesmas características sensoriais e físico-químicas do mel produzido pelas abelhas africanizadas do Brasil. Ora, mais isso é lógico, nosso mel é diferente pois são produzidos por abelhas que possuem características completamente distintas das abelhas de ferrão.
Bem, se a coisa continuar desse jeito as abelhas sem ferrão serão ao longo de um curto tempo levadas à extinção e sua criação será esquecida. Meliponicultor será uma palavra que os mais jovens irão ler e não terão nenhuma referência prática para saber o que um dia significou, não saberão o quanto é louvável e apaixonante exercer uma atividade histórica, preservada pelas mais antigas gerações do homem na terra.
A meliponicultura é uma das poucas atividades que se mantém nos quatro grandes pilares da sustentabilidade, é ecologicamente correta, pois provoca um impacto positivo no ambiente; é economicamente viável, pois podemos comercializar os produtos de excelente qualidade produzidos por essas abelhas; é socialmente justo, pois mantém o homem ligado ao campo reduzindo os impactos do êxodo rural e é culturalmente aceito no mundo todo.
Enfim, ser meliponicultor além ser uma atividade prazerosa do ponto de vista pessoal, é antes de mais nada indispensável para a própria preservação da natureza, principalmente pelo primordial papel das abelhas nativas como polinizadoras das nossas matas.
Pena é saber que autoridades brasileiras ainda não perceberam isso. Só esperamos que não seja muito tarde quando eles acordarem para enxergar o verdadeiro papel da meliponicultura. Até lá, continuaremos, ainda que de forma isolada, lutando para preservar a cultura da criação das abelhas indígenas sem ferrão.
Mossoró-RN, em 07 de julho de 2010.
Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
Bibliografia
BRUENING, Padre Huberto, Abelha Jandaíra; coleção o mossoroense, Mossoró, 2001, disponível em:
http://www.colecaomossoroense.hpg.com.br/jandaira.PDF; acesso em 06 de julho de 2010.
CAPPAS, João Pedro: História do Homem Através das Abelhas Sem Ferrão; Insectozoo, disponível em:
http://www.cappas-insectozoo.com.pt acessado em 06 julho de 2010.
CASCUDO, Luís da Câmara: História da Alimentação no Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1983, pag. 61
Instrução Normativa do IBAMA 346/2004
Instrução Normativa do IBAMA 168/2008
Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária do Produtos de Origem Animal (RISPOA); Disponível em:
RIISPOA Dec. 30691-52.pdf ; acesso em 06 de julho de 2010.