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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Kerr trouxe a abelha errada ou Portugal-Araujo pesquisou em Itu?

Pequena, prolífera, extremamente produtiva, desprovida de agressividade, olhe aí a Abelha Africana que me deixou com inveja e vai deixar com inveja muitos em nosso meio. Até o PNN se surpreendeu com ela e com os seus favos de cria, em cacho, na horizontal, na vertical, oblíquos, côncavos ou convexos, células agrupadas ou separadas, a "abelha Cólo" parece uma construtora que esqueceu de consultar a planta, ela deve ser a inspiradora da arquitetura espontânea do professor Carlos Luis de Almeida, de Joaquim Gabriel dos Santos, Estevão da Conceição, Ferdinand Cheval, Raymond Isidore e tantos outros. Mas, vamos parar de divagar e deixar a descrição para aqueles que a conhecem melhor.



Virgilio de Portugal Araujo, o grande mestre português das abelhas, nos transmitiu a informação que a T. bocandei pode ser a campeã mundial de produção de mel entre as Abelhas sem Ferrão. Em seu artigo ele faz referência a grande produtividade dessa trigona africana, que supera tudo o que eu já ouvi falar.

Vejam no mapa abaixo a distribuição dessa abelha, na África e logo a seguir leiam o artigo publicado em 1955, por Portugal Araujo, após anos de observação dessa abelha em Luanda, Angola. Para essa matéria eu extraí dos relatos de Portugal Araújo, apenas os trechos relativos a Trigona (Meliponula) bocandei.





Notas sobre colônias de Meliponineos de Angola África

Por

Virgilio de Portugal Araujo

Introdução

A pedido de P. Nogueira Neto, fiz uma série de observações em ninhos de meliponineos africanos, as quais são aqui relatadas separadamente, segundo as diferentes espécies.


Observações sobre a abelha vulgarmente denominada "Cólo" (Dialeto Bacongo) ou "Ocólo" (Dialeto Kimbundu)

Trigona (Meliponula) bocandei Spinola

Favos e Potes - os favos de cria são em forma de cacho, compostos de células ovóides, onde é colocada a papa alimentícia e o ovo. Quando novas, o seu aspecto é castanho claro e quando velhas, contendo cria prestes a eclodir, são de um amarelo acastanhado.
Os favos são de forma irregular, havendo-os horizontais, verticais e oblíquos, côncavos e convexos, mas todos ligados entre si, havendo cavernas e galerias entre tais favos. Apesar das células serem ovóides, quando o conjunto é horizontal, são ligadas a seis outras células, mas sem que as suas paredes sejam comuns a quaisquer delas. Se o conjunto de outro favo toma a posição oblíqua, as células vão sendo construídas um pouco acima e de lado das restantes, mas sempre com os topos no sentido vertical. Se toma a posição vertical, as células são construídas sobre as que lhes ficam em baixo, até tocarem em algum favo superior. Quando horizontais, os favos têm o tipo da espécie "Saque", mas sem que as suas células sejam hexagonais; estas têm a forma circular e os vazios entre as células vizinhas são preenchidos com a substância de que são feitas as membranas e potes.

O conjunto de favos mede de 15 a 18 cm de diâmetro por 20 a 25 cm de altura, num todo cilíndrico protegido às vezes por uma a duas membranas e outras vezes por 4 a 5, formando assim diversas câmaras cavernosas, onde circulam as abelhas e onde desemboca a galeria de entrada. Estas membranas são espaçadas de 8 a 10 mm. As células reais vêm-se nos cachos e com mais freqüência nos bordos, junto a primeira membrana interna.

O mel, assim como o pólen, é colocado em potes feitos de cera e outras substâncias, sendo bastante maleáveis quando dentro da colônia e quebradiços quando abandonados e expostos à baixas temperaturas. O tamanho médio dos potes é de 2,2 cm de diâmetro por 3 a 3,5 cm de altura, havendo-os maiores e menores para preenchimento de vazios. As suas paredes, habitualmente, são comuns a 6 potes, formando um hexágono irregular mas, se isolados, são circulares.
O conjunto desses potes vai até a 1 metro e mais de altura por 20 ou mais cm de diâmetro.

Agressividade - Não são agressivas. A sua manipulação é fácil.


Entrada - Oval ou retangular, vertical, oblíqua ou horizontal, com 2,5 cm por 5 mm de bordos um pouco salientes, seguindo em galeria virada para baixo, de 10 a 20 cm de comprimento, desembocando na membrana externa do ninho. Esta galeria é construída com própolis durissimo e está encostada à parte interna do tronco, até encontrar o ninho. O buraco do tronco em que é feita a entrada é tapado com material resistente, às vezes com 5 cm de grossura. À noite, a entrada é obstruida corn grãos de resinas viscosas, mas sem dificultar a ventilação certa e continua.
Durante o dia, os arredores da entrada são ocupados por abelhas que habitualmente tem resinas nas corbículas das patas traseiras e, mais distante pelo tronco, por machos de vôo rápido, os quais se deixam apanhar à mão. Estas abelhas, com exceção das guardas, levantam vôo ou caem no chão à passagem ou aproximação de qualquer pessoa, voltando minutos passados e então penetram no interior da colônia. Os machos, neste caso, também levantam vôo, mas voltam a poisar no mesmo lugar, logo em seguida.

Ninho – É construído a seguir a entrada, contendo os favos compostos por células ovóides, em cacho. É envolvido pelas membranas atrás descritas. O seu comprimento está em relação
com o diâmetro do ôco, sendo mais comprido se este for estreito ou apresentando formas diversas para um aproveitamento rnáximo do ôco, com prejuízo dos potes que contém me1 e em parte também com prejuízo dos potes que contém pólen.
O conjunto é seguro as paredes do tronco por colunas de pr6polis (que por vezes seguram também potes) ou é simplesmente encostado às paredes. É ele a única parte delicada nas mudanças destas colônias para colmeias racionais.

Pólen – É colocado na parte inferior do ninho e fora dele, em potes descritos, que vão sendo cheios e fechados, ocupando uma area às vezes superior a 30 X 20 X 20 cm, conforme o tamanho da colônia.
Mel - Encontra-se em potes iguais aos que contem pólen. Quando há sucessivas colheitas ou aumento da colônia, os potes que o contém, próximos do ninho, são esvaziados e ocupados com pólen.
O aumento da colônia é feito pelas abelhas, pois se trata de colônias selvagens.
O me1 é cristalino, levemente dourado ("branco-agua"), bastante aquoso, de paladar característico e lembrando o nectar puro e doce das flores.
Alguns potes contem me1 mais espesso que outros, tendo encontrado alguns cristais incolores e insípidos.

Larvas - Vivem mais de 24 horas depois de retiradas das colônias, mas isso esta em relação com a temperatura ambiente.

Rainhas - Mais claras e de abdômen amarelo, 2 a 3 vezes maior que o das obreiras.



Obreiras - Muito trabalhadoras, pouco esquivas quando se manipula a colônia, construindo com rapidez os potes e recolhendo rapidamente os alimentos. Recolhem e armazenam sempre uma quantidade certa de pólen, reservando o restante do armazém para o mel.

Machos - Existem em grande quantidade, vendo-se a qualquer hora nas proximidades da parte externa da entrada e por todo o interior da colônia, sobretudo nas proximidades do ninho. São mais claros que as obreiras e do mesmo tamanho, mas de abdômen amarelo-acinzentado e chato. Muito vivos e de vôo rápido.

Enxames - São desconhecidos.

Cera - É produzida nos 2.O, 3.O e 4.O segmentos abdominais, na região dorsal. Apresenta-se em lâminas de 1,9 mm de comprimento por 0,8 mm de largura, branca e engrossando para o bordo inferior.

PRODUTIVIDADE E POLINIZAÇÃO

De todos os meliponineos que observei, são estes os melhores, não só pela facilidade de manipulação, como pela sua produção. Informam-me os indígenas que chegam a tirar, de troncos ôcos, 10 a 18 litros de mel. Até hoje, porém, não consegui encontrar nenhum que produzisse essa quantidade.
São vistos a trabalhar no campo, a qualquer hora do dia, aproveitando flores que as do gênero Apis descuram.






Os capítulos: COLÔNIA ALOJADA EM COLMÉIA RACIONAL NOGUEIRA NETO MODELO 1948 TIP0 "URUSSU" e CAPTURAS E MUDANÇA DE COLÔNIAS, podem ser vistos na edição original: http://www.zoologie.umh.ac.be/hymenoptera/biblio/Portugal%20Araujo%201955.pdf





Estou achando que estes informantes indígenas do Portugal-Araujo, são naturais de Itu, não é Terta?


Brincadeiras a parte, acho que as meliponulas precisam ser melhor conhecidas por nossos meliponicultores, podem até se transformar em ótimas opções comerciais tipo a vaca, a galinha, o porco, a tilápia, a apis melífera. Uma abelha sem ferrão com produção extremamente alta, pode ser revolucionária.

Um comentário:

  1. ola. fiquei muito feliz por ler seu blog. Virgílio Portugal Araujo e meu avo... infelizmente faleceu em 1983. cumprimentos e 1 grande obrigado por ainda falarem nele.

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